- ATTO SECONDO - CERIMÔNIAS
SEXUAIS
- Ilustração de Sônia Alves
Dias -
Bruna Piantino
Caros leitores: acreditem. Não fui eu quem escreveu esta
coluna, ela me foi dedicada por J.B.Z.9.5., uma senhorita que
se diz muito minha fã e que há alguns anos acompanha os meus
escritos, afirmação na qual acredito piamente, mas devido à
minha clarividente sensibilidade, que se aflora em
determinados momentos, não posso dizer o mesmo de vocês. O
fato é que um interlocutor se colocou entre nós, foi assim que
tudo começou.
Um
empuxo repentino levou uma bela cabeça de titânio escovado -
levemente arredondada, medindo no topo cerca de três
centímetros e meio, tendo como ponto de contato inicial o
maior alcance de sua varredura - a esquadrinhar as rosáceas
paredes intra-uterinas já lubrificadas. Após longo período de
contemplação cilíndrica, o dispositivo eletrônico visualizou
um pequeno sinal de luz e caminhou pelas zonas pubianas com
suas correntes penduradas a escalar e a roçar as nádegas.
Conseqüentemente, ao perpetrar as zonas anais, atitude mais
que esperada, saiu e entrou várias vezes, até que não
conseguisse mais contá-las e viu-se a tosquiar carneiros
negros em um bosque de coníferas com a água da chuva a
molhar-lhes os desejos.
E
assim continuou descendo pelas forquilhas alheias, exercendo
as possíveis variáveis de cócegas nos locais propensos às
mesmas. Avistando um promontório, resolveu fazer uma pausa
acrobática sobre o joelho esquerdo, subiu pelas tenras e
macias colinas laterais e encontrou salientes alguns pares de
ossos alongados que lhe davam um púlpito para descansar, mas
não pôde dormir, na verdade, lançavam em sua direção miradas
tão calorosas que, sem dúvida, aparelho algum havia
presenciado tamanha demonstração de afeição.
Ele,
inundado de satisfação, escorregou pela barriga e viu-se num
emaranhado energético pelo qual foi fisgado como um mísero
alfinete por um enorme ímã, e deste modo permaneceu imóvel,
atingindo desta vez o ápice do relaxamento e se permitindo
curtir os ócios da viagem, como se parte alguma outra lhe
quisesse, como se algum outro mundo não clamasse por seu
toque, como se o centro gravitacional tivesse mudado afinal de
direção e ele ali fincado sua âncora.
Então, um grito arrancou-lhe de sua calma e desperto pôs-se
cego a tatear as costas, e a mesma voz cada vez mais grave e
menos distante continuava a sussurrar-lhe versos de grande
eloqüência. Sentia a vibração de todo o fator Rh positivo de
seu corpo, quando a boca atrelada ao bloco, tremia de emoção e
tomada por um sentimento contínuo de doação, em meio a uma
série de espasmos, sentira o alívio da eterna euforia. Eles
estavam conectados e pensando na propensão ao abismo de toda e
qualquer relação conjugal, mas no frigir dos ovos, o que
deveras interessava ao casal era a volúpia habitual à qual
estavam submetidos.
*
Bruna Piantino,
poeta, reside em Betim (MG). Publicou os livros de poesia
Breus e Bastão.
*
Sônia Alves Dias,
nasceu em São Paulo (1972) . Estudou Artes Plásticas na Escola
Panamericana de Artes. Participou em 1998 do grupo Vinte e
Sete + Um em NY e da coletânea Eis Poesia na
cidade do Porto (Portugal) com o conto "Safra Amarga".
Atualmente, é escritora anônima de cartas alheias e cuida de
um pé de trevo com várias folhas. |