ZUNÁI - Revista de poesia & debates

NÃO MATARÁS LUGAR ALGUM

 

Carlos Henrique Schroeder

 

A mesma pedra que segue rumo ao beijo do descaso serve de ímã à serpente e você se engana se acha que um réptil quer o sol não não não quer o rato a escuridão a mordida e glup estômago       pause     ei, você, você mesmo, acha que há diferença entre prosa e poesia, hahahahahaha, não há, é como pau e boceta, é tudo desejo   play e muitas vezes a escuridão pode significar um aperto da Sarah Kane ou o sibilar do Roberto Bolaño ou ainda a voz semirouca do Morrissey ( Why do you come here? And why do you hang around? I'm so sorry/ I'm so sorry/Why do you come here/ When you know it makes things hard for me? When you know, oh Why do you come?) Eu conversei com o David Foster Wallace, sim, eu lhe disse, cara, tira esse nó, tira, não combina contigo cara mas quando se está morto e com a porra de uma corda no pescoço a única coisa possível é sonhar com uma serpente caçando um rato sssssssssssss flap e o rato se debate (olha bem pra mim, não tenho cara de quem escreve debate-se) e essa imagem se repete mil vezes rato cobra rato cobra rato cobra rato cobra até se tornar verdadeira e você  ouve a voz do Cid Moreira em tom bíblico:

 

                                       Não matarás lugar algum

 

  ~~~~~~~~~~~~ Cobra                ~oO; Rato   

 

                                                                                    sssssssssssss flap

 

 

Surge o ponto, surge a vígula. FLAP.

 

Uma ideia interrompida é guilhotina na. Outra casa a sua casa não tem casa nem ponto o ponto é sua casa e a vírgula a foice, que corta, corta, corta. Eu digo tudo isso de outro lugar, não, não, não daquele que você imagina, pois me descobri emparedado, estou preso num arquivo pdf. A única coisa que vejo é o símbolo da Adobe, e o resto é. Guilhotina.

 

   Why do you come here?

 

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Carlos Henrique Schroeder é contista, romancista, dramaturgo e editor. É autor de nove livros, dentre eles A rosa verde (Editora da UFSC), Ensaio do Vazio (7 Letras)  e As certezas e as palavras (Editora da Casa), que recebeu o Prêmio Clarice Lispector 2010, da Fundação Biblioteca Nacional. Seu romance A mulher sem qualidades (em conclusão) ganhou a Bolsa Funarte de Criação Literária 2010.

 

 

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