COMUNHÃO
Paul Marcel
Danilo
Será que a chata da Katia vem hoje? Tomara que não venha, que mulher insuportável.
Clara
Deus, por favor, não deixa meu pai ficar bêbado, o que o Renato vai pensar? Não vai querer entrar numa família de alcoólatras, né?
Rafael
Cara, não é possível! Esse Jorge é muito cara de pau! Só aparece de domingo, porque pode comer de graça! Ah, Claudia, por que você foi casar com um merda desses, mana?
Janete
Conto ou não conto pra eles que o exame deu positivo? Já me tratam como uma velha... Que azar, que azar eu tive! Um marido inválido e agora isso!
Katia
Lá vem dona Claudia, toda empinadinha. Ô mulher exibida! Se acha a gostosa, certamente. Me pergunto se o corno do marido sabe dos pulinhos dela!
Renato
Que esquisito, dá a impressão que tá todo mundo fingindo. Essa beijação, essa troca de amenidades... Bom, a minha família não é muito diferente, as pessoas se toleram e olhe lá.
Jorge
Acho que vou fazer que nem o velho e encher a cara, viu! Não suporto o jeito como esse bosta fica me encarando, como se eu fosse um intruso! Tou fazendo o favor de comer tua irmã, que era uma puta encalhada, meu! Se liga!
Claudia
Espero que o Danilo se comporte hoje, já basta sábado passado! Tem horas que parece um psicopata, não entende que eu sou casada.
Manoel
A Katia fica cada dia mais boazuda. Essas minhas sobrinhas... Ela nem me nota, deve me achar um velho bêbado que nem fica mais de pau duro... Ah, se ela me conhecesse vinte anos atrás!
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Paul Marcel nasceu em São Paulo em 1973, no mesmo dia de Elis Regina e Billy Corgan. Músico amador, toca bateria, guitarra e piano — mal — e escreveu um livro sobre essa experiência. É tradutor de inglês, francês e espanhol, e no momento pena para aprender alemão. Está gestando seu terceiro romance e uma peça de teatro. |