I
cores anulam-se, inescritas, habitam escuros;
na paisagem do áspero,
prisioneiros alinham-se
sob as vigas
do hospital-labirinto
em sujiatun.
apenas o sol se infiltra
nas brechas do estuque,
perfurando
como um bisturi
às cegas.
II
mordendo os próprios pulsos,
movimenta-se,
desorientado,
atrofiado,
recurvado,
em galerias de negrume.
reverbera
contínua proliferação
de imagens,
cinema insano
que alguns chamam
realidade.
III
talvez após ler a notícia num portal
que Han ou Chen ou Bin
perdeu falanges
e artelhos,
arrancados pela maquinaria
de reversos,
você considere
que não é este
o absoluto,
nem o único relativo,
no amplo feixe de possibilidades;
talvez reflita que pertencer
a este roteiro
é uma condição alterável,
e o próprio roteiro,
passível de ser reescrito;
ou talvez se conforme à somatória
de enganos,
satisfeito em sua erótica simples,
porca,
sua música de lupanar;
e siga de um a outro lado da calçada,
as mãos no bolso,
olhos de árvore,
confirmando a hipótese
intolerável.