ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

OS SEIS LADOS DO CUBO


Om bishwa shante ananda, paz e júbilo, em tempo de destroços; ouvir o cantar da musa, sob trovoadas; quando sóis queimam relógios de pulso e o lobo canta em staccato para a lua; há uma menina morta e gerânios; peixes de sândalo recitam mantras em águas-de-negrume; figuras de plástico exibem garras; e a jovem defunta pula corda contando étoiles. stelas são brancas como estrelas; olhos brancos; armas brancas; deserto branco, como um livro infinito; white stars e guitarras mouriscas ganindo, tânagras e tâmaras parindo, serpentes parindo, e os dicionários dizendo não posso mais. quando palavras são ossos; restos de haxixe; jornais em esperanto; um brilho vermelho; bigodes escuros de mongol. sibilas calam todo dizer, letras e números perdem sentido, expressões atrofiadas como patas de aranha-anã. porém, nós cantamos; bebemos do azul, do fel, da flor, da navalha, e cantamos; para dar alento às laranjas, às janelas; para acender os poros da pele; fazer rebrilhar a asa tensa do pavão; juntar as pedras do quebra-cabeças, após enxugar o que escorre; recompor o retrato, a língua, a saliva, o colar azul de tulasi; porque existe o açafrão e os seis lados do cubo, os anilhos e arrulhos, nácares, áspides, o mundo.

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[ ZUNÁI- 2003 - 2005 ]