AL NAKBA, SOB A LENTE PALESTINA
Luciana Garcia de Oliveira
“O conflito Israel-Palestina é um problema global”, essa é a frase que inicia o documentário intitulado Al Naqba (A Catástrofe), expressão pela qual os árabes denominam o ano de 1948, quando cerca de 1 milhão de palestinos tiveram de abandonar seus lares, durante as lutas decorrentes da criação do Estado de Israel.
A autora do filme, Rawan Damen, nascida na Cisjordânia, vive atualmente no Catar, onde trabalha como diretora e produtora da TV Al Jazeera, realizou no presente trabalho, minuciosa pesquisa numa perspectiva pouco divulgada nos meios culturais e acadêmicos, qual seja, o olhar dos vencidos, por meio de depoimentos de intelectuais árabes e refugiados palestinos, considerado praticamente inédito na maior parte dos trabalhos sobre esse tema. O que reascende a atual polêmica em torno dos trabalhos que abordam o conflito, já que em sua maioria estão sob a perspectiva israelense e sobretudo, ocidental.
Al Naqba, narra a história por um olhar estritamente palestino, sobre os conflitos durante o domínio britânico na região, entre o período de 1920 até 1948. É constatado, no entanto, o interesse britânico na criação do Estado Judeu, antes mesmo da Declaração Balfour (quando o mandato britânico se comprometeu à instalar um “lar nacional” para os judeus na Palestina).
Fato pelo qual pode ser perfeitamente corroborado, ao depararmos com o estímulo pela imigração maciça de judeus para a Palestina, fato este, bastante perceptível em qualquer documento histórico capaz de comprovar o aumento significativo desse contingente na região.
O que determinou, em seguida, na grande revolta dos árabes na Palestina, entre 1936 e 1939. O que desmitifica fatos até então oficiais, na realidade, a Palestina foi perdida pelos árabes em 1939 e não em 1948 como é divulgado na maior parte dos meios de comunicação de massa.
Enquanto velhos aliados dos judeus, a colônia britânica se omitiu deliberadamente durante as primeiras expulsões dos moradores palestinos desde 1948, período em que os ingleses ainda permaneciam no Oriente Médio. Fato pelo qual contribuiu para a extensão do conflito até o período vigente, daí a atualidade da obra, que esteve em cartaz na 5ª Mostra Mundo Árabe de cinema.
Aliado aos fatores históricos, a atualidade se exprime por intermédio dos últimos acontecimentos na região, marcada ainda hoje por intensos conflitos, repressões, atentados e por uma forte segregação de toda uma população que tem o seus direitos deliberadamente desrespeitados ao longo dos anos.
O apelo retomado no início, refere-se a toda comunidade internacional que, segundo a autora do documentário, tem grande responsabilidade na questão dos respeito aos direitos humanos do povo palestino e da mesma forma, a maneira como esses direitos humanos estão sendo interpretados pelas autoridades envolvidas no conflito Israel-Palestina. Principalmente no que cerne aos debates sobre a viabilidade de um futuro Estado Palestino, seus direitos e limitações.
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Luciana Garcia de Oliveira (luciana.garcia83@gmail.com) – Pós-graduanda em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP), graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), membro do Grupo de Trabalho sobre Oriente Médio e Mundo Muçulmano da faculdade de História da Universidade de São Paulo (USP).
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