ENTRE A EXPECTATIVA E A REALIDADE – O FÓRUM SOCIAL
E A RESPOSTA ISRAELENSE
Luciana Garcia de Oliveira
O Fórum Social Mundial Palestina Livre, ocorrido entre os dias 28 de novembro à 1º de dezembro contou com uma grande diversidade de atividades e uma enorme pluralidade de espectadores. E, contrariando as expectativas negativas, divulgadas em alguns meios de comunicação, quais sejam, acerca da probabilidade em se promover conferências com a adoção de um discurso em prol da “destruição de Israel”, sob uma base de teses negacionistas do holocausto nazista, de maneira à se produzir tão somente um evento formado por uma série de atividades não comprometidas com a promoção da paz e da coexistência, o encontro internacional pôde comprovar o quanto é possível reunir um grande público em torno de um objetivo comum: a promoção da paz, justiça e liberdade de um povo oprimido há exatos 65 anos.
E, na contra-mão dessas previsões alarmistas, muito além do público brasileiro, estrangeiro e dos protagonistas palestinos, a comunidade judaica estava ativamente presente, pôde inclusive posicionar-se contrariamente à imposição sionista à realidade palestina, durante uma mesa de debates denominada Case of jews against zionism (O caso dos judeus contrários ao sionismo). Foi nessa mesma atividade a qual puderam inclusive declarar-se contrários ao regime classificado, por eles, de apartheid político e social.
A grande marcha, do dia seguinte, pelas ruas da cidade de Porto Alegre, propositadamente agendada no mesmo dia da reunião da Assembléia Geral das Nações Unidas, foi para muitos um momento de grande expectativa pelo reconhecimento do Estado Palestino como membro observador, por isso, durante o seu curso a maioria pôde comemorar juntos pela conquista palestina, referendada por um total de 138 Estados, membros das Nações Unidas. E, diante da reafirmação de uma enorme conquista política, na quinta-feira, dia 29 de novembro, o premiêr de Israel, Benjamin Netanyahu afirmou incisivamente: “nada vai mudar”. Em decorrência disso, alguns dias depois, tomou algumas medidas punitivas contra Mahmud Abbas (presidente da Autoridade Palestina), considerado hoje, como um herói por grandes contingentes palestinos da Cisjordânia, Faixa de Gaza e da diáspora.
As medidas retaliatórias foram portanto anunciadas em Nova York, durante uma conferência, Netanyahu anunciou a construção de 3 mil novas residências em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Ainda, no domingo, dia 02 de dezembro (um dia após o Fórum), o governo israelense declarou não pretender repassar aos palestinos, os fundos dos impostos pagos por eles, foi informado, no entanto que, a quantia de cerca de 120 milhões de dólares iria ser utilizada para pagar uma dívida com a companhia israelense de eletricidade.
Ainda com relação aos novos assentamentos, estavam previstos para serem erguidos em uma região batizada de El (localizada entre a cidade de Jerusalém e Maale Adumim, na Cisjordânia), zona de passagem obrigatória entre o norte e o sul da Cisjordânia em direção à Jerusalém. Isso significa que, se o referido plano de colonização for finalmente concretizado, será inevitavelmente o fim da possibilidade em se criar um Estado palestino sob uma região contínua, e pior ainda, o acesso à cidade de Jerusalém seria negado.
É bem verdade que, Netanyahu e seus aliados nunca foram, de fato, favoráveis à solução de 2 Estados. E, mesmo diante de uma vitória praticamente certa, nas próximas eleições israelenses, pode ser percebido entre os mais próximos do governo de Israel, o quanto essas lideranças estão acuadas por esses dias. Isso porque, entre esses dias, o então Ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman manifestou-se acerca da decisão da ONU, revelou por sua vez em tom apelativo, como de costume, tratar-se de um “terrorismo de Estado, referendado por 138 Estados das Nações Unidas”.
A partir daí, não é de modo algum difícil constatar o quanto o voto pelo reconhecimento da Palestina foi uma resposta à altura contra a truculência israelense e, sobretudo à diplomacia ambígua do Estados Unidos com relação ao Oriente Médio e à ocupação de Israel. Mesmo essa posição dúbia norte-americana não foi perdoada pelo governo israelense, a qual encontra-se cada vez mais isolado sobretudo, ao depararmos que dessa vez, Israel não pôde contar com o apoio de governos como o da Itália, França e Espanha, aos quais votaram a favor da Palestina e, mesmo os antigos aliados como o Reino Unido e a Alemanha preferiram abster-se publicamente.
Todas as “respostas israelense” então implementadas, faz com que todas as previsões anteriores sobre a consecução do primeiro “Fórum Social Mundial Palestina Livre” sejam absolutamente irrelevantes e não verdadeiras. Nesse sentido, cada vez mais, a comunidade internacional assiste uma atitude extremamente inflexível ao debate e ao diálogo dos governantes israelenses com seus interlocutores. Isso, sem mencionar as contínuas violação dos direitos humanos e do direito internacional, todas as publicações que antes desqualificavam o Fórum Social, são simplesmente fruto de uma inversão ideológica ainda presente em nossa realidade.
Esse tipo de inversão ocorre nos casos em que as manipulações americanas-israelense são ameaçadas por novas alternativas, representadas por novos textos, argumentos, vídeos, produções artísticas e, a idéia de um grandioso evento com a marca do Fórum Social seria uma oportunidade potencial em contrapor todas as informações imprecisas e principalmente, seria a oportunidade de demonstrar ao grande público todas as omissões alienantes.
Pode ser constatado que o Fórum Social Mundial Palestina Livre cumpriu esse papel, juntamente com as 150 atividades propostas por acadêmicos, jornalistas, artistas e ativistas, todos aos quais puderam apresentar seus resultados de pesquisas, impressões de suas visitas aos territórios ocupados e, acima de tudo, denunciar os crimes cometidos contra o povo palestino, a expansão dos assentamentos, o muro, as prisões administrativa, a questão dos refugiados, as práticas de tortura e as punições coletivas na Faixa de Gaza.
Dessa vez, alguns integrantes da comunidade judaica brasileira e estrangeira puderam reunir-se em sua solidariedade pelos palestinos, por sentirem vergonha. Ainda são pouco, é verdade, porém a velocidade e a quantidade de informações cada vez torna o discurso sionista vigente praticamente insustentável. A história dirá.