ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

ACORDAR DO ENIGMA MUSICAL

 

É preciso decepar as mandíbulas das formigas? Seis horas. Alsácia-Lorena. Verde, o uivo do molusco; a escama descarnada; verde, o salto do gatopardo. O homem pintado de amarelo sobe a escada. Ele sempre atira um tijolo no padeiro. Por que é preciso engravidar bonecas de louça flamenga com uma espátula? E mais: procriar fetos vegetais que mordem os pulsos? Sirenes. Rasantes. Poliedros. Esqueletos brancos de meninos desossados. A garota com a sombrinha cor de damasco acaricia a hélice do ventilador. Para quê fazer poesia de corações tatuados? Seis horas (repito). - É tarde. Miragens de minaretes e mesquitas, entre estilhaços. Tanques; ianques; binóculos míopes trucidam camelos. (Na hora do assassínio, vestir desmaios de aranhas com as próteses e luvas de passeio do aleijado.) - É tarde, mamãe, é tarde. - Meu filho, filho meu! Vocábulos perdem essências, como a súbita gagueira do ventríloquo, em um talk show. Quando a fala não canta, coagula. A História é um poema mal escrito? Depois da sova, acordar do enigma musical e urrar com três bocados de medo. A poesia ainda é possível? Verde, o caminho do vírus.

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[ ZUNÁI- 2003 - 2005 ]