ACORDAR
DO ENIGMA MUSICAL
É
preciso decepar as mandíbulas das formigas? Seis horas.
Alsácia-Lorena. Verde, o uivo do molusco; a escama
descarnada; verde, o salto do gatopardo. O homem pintado de
amarelo sobe a escada. Ele sempre atira um tijolo no padeiro.
Por que é preciso engravidar bonecas de louça
flamenga com uma espátula? E mais: procriar fetos vegetais
que mordem os pulsos? Sirenes. Rasantes. Poliedros. Esqueletos
brancos de meninos desossados. A garota com a sombrinha cor
de damasco acaricia a hélice do ventilador. Para quê
fazer poesia de corações tatuados? Seis horas
(repito). - É tarde. Miragens de minaretes e mesquitas,
entre estilhaços. Tanques; ianques; binóculos
míopes trucidam camelos. (Na hora do assassínio,
vestir desmaios de aranhas com as próteses e luvas
de passeio do aleijado.) - É tarde, mamãe, é
tarde. - Meu filho, filho meu! Vocábulos perdem essências,
como a súbita gagueira do ventríloquo, em um
talk show. Quando a fala não canta, coagula. A História
é um poema mal escrito? Depois da sova, acordar do
enigma musical e urrar com três bocados de medo. A poesia
ainda é possível? Verde, o caminho do vírus.
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