DESAFIO
A poesia brasileira vive
hoje um impasse: regurgitar uma estética consolidada,
e que já esgotou suas possibilidades criativas, ou
investir em novas estratégias de composição.
A lírica discursiva, centrada na dicção
coloquial e na temática cotidiana, já atingiu
o seu pico nas primeiras décadas do século passado,
embora reaparecesse, de maneira epigonal, em certa poesia
dos anos 70, que pouco ou nada acrescentou de informação
nova. Essa foi uma tímida tentativa de reconstruir
o discurso, numa dicção fácil e canonizada,
evitando a radicalidade da vertente Cabral / Poesia Concreta,
que colocou nossa produção poética, pela
primeira vez, na vanguarda internacional. A retomada de procedimentos
mumificados, além de anacrônica, foi um passo
atrás também no campo do pensamento estético,
aliando-se, no âmbito da academia, a visões de
cunho sociológico que já apresentam avançados
sinais de mofo. O que se coloca, hoje, como desafio, não
é retornar de maneira ingênua às formas
já bem conhecidas da vanguarda recente, mas investir
na descoberta de novos territórios, repertórios
e estratégias, dialogando com facetas pouco exploradas
da aventura poética.
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