POLIFONIAS
PARA UMA POÉTICA POSSÍVEL
"A
poesia tem pouco a ver com a descrição objetiva de uma realidade.
(...) A poesia é extraterritorial. Sempre está em outra parte,
e essa outra parte talvez se chame linguagem."
- Victor Sosa
"Lorca diz (e é
belo) que 'uma lagartixa é uma gota de crocodilo'. Perfeita
síntese, perfeita correspondência. (...) Isto é uma metáfora?
Sim.
Que função tem? Não a de alterar a realidade, mas a de reconhecê-la
protéica, mutante. A metáfora é a polifonia
das formas até sua síntese."
- José Kozer
"O trabalho material sobre a língua adquire uma força -
em sua própria escala - transformadora. No plano da língua,
no entanto, esta situação desterritorializada proporciona
uma grande dinâmica criativa, uma certa sensação de observação
e escuta contínua da estranheza, de não cessar nunca de reconhecer-se."
- Reynaldo Jiménez
"Antonio
Candido define a literatura brasileira como um galho menor
de uma árvore menor que seria a literatura portuguesa. Tenho
uma idéia diferente, pois não considero que existam literaturas
maiores ou menores. Acho que existem diferentes contribuições
à literatura universal, à grande literatura."
- Haroldo de Campos
"A
matéria-prima do poeta é a palavra. Em qualquer sociedade,
(...) o poeta faz a mesmíssima coisa: jogo de linguagem. (...)
Agora, (...) compor em vídeo não é a mesma coisa que ver signos
se fixando a fogo numa placa de barro. O poeta tem que saber
jogar, inteligentemente, com as tecnologias do espírito."
-
Antonio Risério
"O
sentido de escrever poesia, para mim, é o sentido das práticas
desalienantes em um mundo reduzido ao economicismo. (...)
Eu sou um dos néscios que crêem que outro mundo é possível.
Nesse outro mundo possível a poesia será necessária, voltará
a ser necessária. (...) Nesse sentido creio que a poesia pode
abrir espaços na realidade, nas linguagens massificantes que
consumimos e falamos cotidianamente.
-
Eduardo Milán
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Fragmentos
de algumas das entrevistas publicadas pela revista Zunái
no período 2003-2005, agrupadas num possível não-manifesto.
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