ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

UMA ARQUITEXTURA DO CAOS

 

Susanna Busato

 

Estar voltado com o rosto para o nada parece ser a tônica de nosso tempo. A dimensão do caos, como a ideia da possibilidade infinita, e dos estados de melancolia e de depressão frente à impotência da ordenação, surgem como metáfora de um tempo que não percebe uma saída para um mal-estar gerado por fatores vários, como a aceleração da informação, a ansiedade por estar antenado com tudo, com o tempo que parece reduzir-se cada vez mais e com a nossa impotência diante dos acontecimentos do mundo. Ainda: o mais difícil: perceber no outro e em si próprio o engano, o desapontamento. Uma era de desencantos. E isto não tem nada de metafísico: tem a ver com política, cultural, sem dúvida, e educacional, na base de tudo. Sendo que tudo abala o sujeito, este ser que vaga neste mundo em procura de si mesmo. E nesse gesto de procura talvez se flagre a permanência do caos perpétuo da humanidade no exercício da escritura. Uma sem-saída. E a necessidade novamente da ordem. Na palavra.

 

A poesia moderna nasce como forma de crítica da linguagem. Esse legado parece persistir de forma instável após a vanguarda do movimento da Poesia Concreta no Brasil. A partir da década de 80 do século passado até o nosso presente, assistimos à emergência de um “negar” que se impõe como um verbo de ação que move a poesia, ou como recusa ao já feito e ao já roteirizado, alimentando-se dos paradigmas que nuclearam a modernidade como a dimensão do make it new, de Pound, ou como diluição de um discurso voltado para o cotidiano, que aparentemente parece repetir uma prática já marcada na poesia do modernismo brasileiro, retomada pela poesia marginal dos anos 60 e 70, e roteirizada, por exemplo, no estilo do “projective verse” norte-americano de pós 2ª. Grande Guerra. Num momento “pós-tudo”, de “pós-utopia”, marcado pelo “princípio realidade”,  voltado para o momento presente e, sobretudo, para uma revisão do próprio poético, novos paradigmas acabam regendo a perspectiva de uma poesia que nasce voltada para o seu instante de reflexão, sobre si mesma, sobre o sujeito ou sobre o mundo.

 

A poesia contemporânea, em termos gerais, vai se situar na construção de um intervalo, entre a percepção de um mundo como um lugar em que “tudo está dito”, um lugar do efêmero e transitório, e a linguagem, que tece o roteiro de uma saída crítica para o que percebe ainda como poesia no mundo. Situar-se nessa tensão pode ou lançar o poeta para um impasse, promovendo nele o pensamento crítico sobre a linguagem e sobre seu tempo, ou, por outra via, lançar o poeta ao gesto de repetir o passado, os poetas que o antecederam. O contemporâneo pede um olhar que flagre o instante e instaure nele aquilo que não se alcança: o próprio presente. O fato é que esse presente que se esvai ao ser nomeado somente se alcança ao se flagrar nele, na escuridão em que está envolvido, um átimo de luz, ou seja, um elemento de eternidade. No presente, o passado se renova e se atualiza pelo olhar que parte deste agora e se verticaliza na sincronia com que forma os instantes de sínteses provisórias, para me lembrar aqui de um termo usado por Haroldo de Campos no texto em que fala sobre o momento pós-utópico. Em outras palavras, a poesia do presente para ser presente se constrói no caos (ou se alimenta dele), cujos espaços vão se tecendo na esfera de uma memória crítica de linguagem que se procura na tensão entre um tempo presente rarefeito e uma tradição poética que ainda é percebida como resíduo de significação.

 

Não vou me referir aqui à poesia que se tece como evasão da realidade ou que se tece como prosa escorregadia, como pura notação do cotidiano (uma ideia de presente diluído), procurando abolir do fazer poético a reflexão crítica sobre a linguagem, numa perspectiva de descompromisso declarado com o rigor poético. Não vou me referir aqui a essa poesia, muito embora eu perceba nela um sinal ou sintoma do “vazio” a que a poesia do presente se volta, como sintoma de um desejo que não se realiza. Ou como um “nada” que pouco oferece em termos de respostas ou roteiros para algo que possa permanecer no tempo. Não há como não pensar na lição de Jakobson e de Ezra Pound. Deste último, o conceito de literatura como linguagem carregada de significado, a partir dos mecanismos de projeção do eixo da seleção sobre o eixo da combinação estudados por Jakobson. A produção de núcleos de produção de sentido em vários níveis, sonoro, morfo-sintático e/ou grafossemântico, que podem se realizar espacial e visualmente, alçam a linguagem a uma função poética, porque se projetam  por um olhar crítico, que coloca em crise as esferas de significação, mobiliza outras, recorre à tradição que colocou a linguagem num impasse, dialoga com ela, transforma-a, atualiza-a. Exercício contrário à prática diluidora de certa poesia contemporânea que se aproxima de uma dicção que repete e não ousa reciclar ou transcriar, ou mesmo atualizar o que já está dito por poetas como Manuel Bandeira, João Cabral ou Drummond, sempre imitados e lembrados; e, por outro, esvaziadora do que concerne à função poética da linguagem, que está na linha de frente do que pode ser considerado poético. Mas não é dessa poesia a-crítica de que se vale esta reflexão sobre o “nada” como imagem da poesia contemporânea.

 

Charles Baudelaire, em seu poema “Le Voyage”, que encerra Les Fleurs du Mal, evoca a Morte como o veneno necessário para encontrar no desconhecido o novo, ou ainda, como Friedrich (1978, p. 49) assinala, o “indefinível, a vazia contraposição à desolação do real”. Em outras palavras, esse ideal, que se oporia ao real, é destituído de conteúdo e considerado totalmente negativo. A Morte, como fuga, é esvaziada também, porque assinala o fim, excita o impulso (“Se o mar e o céu recobre o luto das procelas, / Em nossos corações brilha uma chama ardente!”) para “ir ao fundo do abismo, Inferno ou Céu, que importa?”, pois ir ao “fundo do abismo” é “encontrar no Ignoto o que ele tem de novo!”. O ideal não se conhece e alimenta o desejo do poema em projetar-se para longe da realidade. Esse impulso para o caos, que se verifica numa “não-saída” para o eu-lírico, percorre o que Friedrich vai afirmar que a modernidade, em Baudelaire,

 

é que está atormentada até à neurose pelo impulso de fugir do real, mas se sente impotente para crer ou criar uma transcendência de conteúdo definido, dotada de sentido. Isto conduz os poetas da modernidade a uma dinâmica de tensão sem solução e a um mistério até para si mesmos. (1978, p. 49)

 

Ao longo do século 20, a tensão gerada pelas vanguardas vai provocar a emergência de várias tendências, ou estratégias de construir na palavra poética respostas para a saida do caos reinante: poesia de evasão, de carga imagética densa, retornos a formas poéticas tradicionais, experimentação e síntese e também profusão do verbal, exploração do visual no grafo da palavra e na sua espacialização no suporte, formas neobarrocas do verso, brevidade e notação da experiência, etc.

 

A poesia contemporânea constitui-se dessa tensão e se desenvolve de modos vários, tantas são as tendências ou estilos que verificamos hoje. Construção, diluição, co-existência, justaposição, difusão, democracia de produção. Em outras palavras: caos.

 

Ao retomarmos o eixo sincrônico da poesia brasileira, encontraremos o poeta Augusto dos Anjos, um dos nossos simbolistas mais catalizadores do caos vivente, que deixou pra nós a marca da estrela nada guia da existência, ao declarar o estado doentio e caótico da vida, por conta da perda de um mundo na figura de um “eu” nascido num cenário “cosmoagônico”, paradoxal e devorador do outro para situar-se como diferença e imagem da ruína de um mundo em trânsito de paradigmas: a ciência, a psicanálise, a visão religiosa do mundo, a república. E o poeta faz isso devorando na linguagem o extrato de uma outra, que lê o mundo de forma despessoalizada (o jargão científico) e que, na poesia de Augusto, é desfuncionalizada de seu sentido primeiro, participando aqui de uma alegoria de um mundo em ruína. Dicção dissonante, artificial, centrada no sujeito e na sua dissolução: uma existência marcada pela morte.

 

Eu, filho do carbono e do amoníaco

Monstro de escuridão e rutilância

Sofro desde a epigênese da infãncia

A influência má dos signos do zodíaco. (“Psicologia de um vencido”)

 

Drummond também elege na figura do “eu todo retorcido” essa origem torta para o sujeito habitante da modernidade:

 

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

 

 

Não há como negar que o lugar da existência na modernidade gera a dissonância entre o sujeito e seu espaço. Revelar-se como o estranho diante de si é o  roteiro que o sujeito traça como dicção perpétua de um “desexistir”, como o revela a poesia de Frederico Barbosa, que tem como nota agônica a ecoar o compasso desse canto, que Lau Siqueira traz em “Paradigma”:


a vida

é um eterno
ir-se embora

costura de
instantes diluídos
na eternidade

tempo

de retornos
irreparáveis

e encontros
irreconciliáveis

 

Em “Desexistir”, Frederico Barbosa cria pelo prefixo “Des-” a imagem da negação, flagrada na consciência de um “nada” que emerge como figura no poema. Ou ainda, um “nada” que emerge como uma “não-saída”, fruto de um “impasse” para o sujeito.

 

Quando eu desisti 
de me matar 
já era tarde.

Desexistir 
já era um hábito.

Já disparara  
a auto-bala: 
cobra cega se comendo  
como quem cava 
a própria vala.

Já me queimara.

Pontes, estradas, 
memórias, cartas, 
toda saída dinamitada.

Quando eu desisti  
não tinha volta.

Passara do ponto,  
já não era mais  
a hora exata.

 

As vogais abertas em grande número no poema promovem um efeito de sentido ligado a uma imagem esvaziada da existência. A abertura vocálica aqui tem um efeito disfórico.

 

Neste mesmo espaço em que o sujeito se percebe como negação de si mesmo, “Labyrinto Difficultoso” talvez se revele mais singular na dicção formal de um olhar que flagra o caos e a sensação de um “nada” brotando como uma inércia frente ao flagrante de um tempo em ruína. A ideia do “labirinto” como um espaço repleto de incertezas quanto à saída constrói-se como imagem desse “nada” preenchido de repetições que adensam a escritura, que se volta para a sua própria presença como recusa à dicção fácil e linear.

 

LABYRINTHO DIFFICULTOSO

 

 

cada dia                         de novo                                 cada dia

                        mais                            insone                        mais

mas não                         vem                                       mas não

                        é nada              a noite                                    é nada

mais                              insone                                   mais

                        é nada              a noite                                    é nada

é dia                                                                           é dia

               mas não                                vem                             mas não

é nada                a noite                                   é nada

               mais                         insone                        mais

cada dia                         de novo                                 cada dia

                mais                        insone                        mais

é nada                é nada                                   é nada

 

(BARBOSA, 1993, p. 13)

 

O que nega o poema ao expressar o “nada” que se adensa ao repetirem-se os dias e as noites, no passar do tempo que não transforma, que não avança, que paralisa? Constrói este labirinto uma voz, que lê e relê na poesia da tradição a poesia do tempo presente, ou o que dessa tradição ainda permanece vivo: a figura do labirinto como a metáfora da expressão do sujeito frente à incerteza e ao flagrante de uma não-saída para o seu tempo. A “não-saída” seria a imagem de uma expressão crítica referente à poesia de seu tempo; ao estado de coisas de que seu mundo se ressente; ou simplesmente, ao próprio drama particular do sujeito que expressa o modo como se vê e como se situa no mundo em que vive. A verdade é que o poema em si, enquanto forma de uma expressão que mimetiza a crise, promove uma arquitextura do caos. 

 

O tempo presente se perpetua na repetição dos dias e das noites insones gera um esvaziamento, um mais nada, um ainda mais nada que se adensa nos espaços em branco que se vazam como buracos negros entre palavras flanantes, desenhando o descompasso e a desaceleração do próprio corpo, preso na moldura do poema, que se configura como o lugar da tensão e do adensamento de um tempo: o da repetição, do mesmo, que incorpora uma inércia, que incorpora uma atmosfera de crise, que tanto pode ser a do sujeito como a da própria poesia enclausurada num tempo em que “tudo está dito”, num tempo de emudecimentos, de mudanças, para aludir aqui ao poema “pós-tudo”, de Augusto de Campos. A linguagem opera esse gesto do sujeito ao grafar os signos desse mal-estar em suspensão no espaço visual do poema.

 

Se migrássemos para o plano de nossa realidade, poderíamos afirmar que é difícil arrumar as malas e  programar o futuro. Um furo n’água.  É como um “Sem Nem”, poema do livro Nada feito Nada, de 1993, que o poeta Frederico Barbosa constrói no espaço claustrofóbico das estrofes, cujo labirinto situa nossa leitura num “lento projeto de morte”, já anuncada em outro poema, “Dead End”. Uma leitura que vai se percebendo sem ar, lenta, movediça, pelo corredor das 10 estrofes de 21 versos cada, compostos por 10 caracteres com espaço. Não se pode falar em sílabas poéticas neste poema, pois o verso se atomiza por força de uma necessidade intrínseca à própria sobrevivência do verso em nossa época.

 

sem crer e

m nada sem

a mais vag

a esperanç

a de mudar

algo assim

parado sem

forças par

a levantar

um grito o

u mesmo fa

lar com ca

lma a resp

eito de sa

idas possi

veis nessa

coisa seca

sempre cri

se eternam

ente esper

ando o fim


[...]

sem crer e

m nada sem

paz ou von

tade certa

sem crer e

m nada nem

na linguag

em concret

a sem crer

em nada ne

m na queda

da históri

a ou furos

no tempo s

em crer em

nada nem n

o silêncio

do nada ne

m sem nada

nem sem se

m nem nada

(BARBOSA, 1993, p. 31)

 

A dicção emoldurada no espaço exíguo do poema traz uma voz que se lança num labirinto reflexivo acerca da negativa da crença (“sem crer e/m nada sem”) e como num fluxo de pensamento contínuo, sem a preocupação com a pontuação das frases ou dos elementos coesivos, essa voz navega como num vácuo, iconizada pela impotência da ação declarada no nível enunciativo dos versos. Entretanto, a impotência declarada tem seu grito espacializado no campo restrito dos versos e das estrofes, que mimetizam uma onda, que sempre retorna ao “sem crer” que inicia todas as estrofes.

 

O poema apresenta uma voz que procura uma expressão própria no universo das possibilidades que a poesia oferece desde sua origem. O canto espontâneo do sujeito vai encontrar as notas na partitura que inaugura, no ritmo que alinhava no espaço do poema: espontaneidade encenada, um vazio encenado no tempo. Espaço de labirinto, tempo de lassidão. Procura e angústia marcadas por uma negação das possibilidades de ação, que, no entanto, encontram na sua expressão o gesto crítico da escritura (ou seja, uma forma de ação) daquilo a que se volta impotente: à falta de respeito, à vida, à palavra, à linguagem, à poesia, ao silêncio, ao nada. Eis um exemplo do gesto de recusa, eis a experiência estética como construtora da poesia de nosso tempo.

 

Poesia nesse contexto como uma revolta, como o poeta Sebastião Uchoa Leite revela em “as time goes by”: “não penses enquanto passa∕ não olhes para trás com raiva∕ mas guarda e passa!∕ se duvidares do teu espírito críptico∕ põe pra fora a tua metalíngua”.

 

Ler/escrever/sentir é sempre transpor um espaço. É perceber a dissolução, o caos e a criação de um “eu” que revela as fronteiras, os limites e os desafios em que se vê inserido. Nossos desafios, nossos limites.

 

A idéia de espaço emoldurado pelas ações coercitivas do cotidiano, transforma-se na arte como o lugar a ser devorado pela consciência do “nada” que anima hoje a poesia brasileira:

 

negar o nada

para instalar o reverso:

 

talvez do negado

brote um mutante

avesso afirmativo

 

um ser que se inaugure

no limbo

 

ainda que sendo só

um símbolo

 

(TÁPIA, Marcelo. Valor de Uso, 2009)

 

Assinalar o vazio da existência, a não-utopia, a não-saída, torna-se para a poesia hoje um roteiro dela própria. Propõe o poema “O nada negado”, de Marcelo Tápia, um jogo: “negar o nada” para inaugurar um “avesso afirmativo”, ou seja, para inaugurar um dizer, uma voz que signifique, que extraia do agora, desta atmosfera em que “tudo está dito” (alusão ao poema de Augusto de Campos, que também devora esse nada que se abre nas dimensões da modernidade), a poesia como desafio, como uma nova experiência de linguagem, como uma nova experiência de dizer a tal pedra de Drummond, que invade o poema como um ruído e não silencia.

 

João Cabral de Melo Neto, em sua “Antiode”, já retirava das intestinações da palavra “flor” o dado de recusa de uma poesia-flor que já não sente, que já não pode respirar sozinha. A recusa como gesto de negação e ao mesmo tempo de atualização da poesia como traço do presente:

 

Poesia te escrevia:
flor! conhecendo
que és fezes. Fezes
como qualquer,

 

gerando cogumelos
(raros, fragéis, cogu-
melos) no úmido
calor de nossa boca.

 

Delicado, escrevia:
flor! (Cogumelos
serão flor? Espécie
estranha, espécie

 

extinta de flor, flor
não de todo flor,
mas flor, bolha
aberta no maduro)

 

Delicado, evitava
o estrume do poema,
seu caule, seu ovário,
suas intestinações.

 

Esperava as puras,
transparentes florações,
nascidas do ar, no ar,
como as brisas.

 

Augusto de Campos, na orelha de seu “Despoesia”, afirma que os poetas (e eu diria também os artistas) insistem “em querer falar ali onde a razão lógica incitaria a calar ante a impossibilidade do dizer”.

 

A poesia tem sua faca afiada quando consegue colocar a gente frente ao patético de tudo de forma inteligente.  Augusto de Campos, em seu “tvgrama 3”, traz seu sorriso irônico frente ao caos em que estamos mergulhados: banalidades da informação, falta de densidade na vida, o discurso jovem como símbolo do vazio e da precariedade. “Tvgrama 3” traz de forma mais evidente a temática da negação de um mundo em diluição, da banalização e homogeneização da informação, elementos que vão de encontro com a situação da poesia nesse tempo de “amorfonia”. Um mundo que o já conhecido BBB da tv revela como samba-de-uma-nota-só da inteligência rarefeita de que a tv se revestiu há décadas, infelizmente. O poema está escrito em formato flash, para o computador, numa fonte de letra que traz um elemento de juventude, alegre e irônico no clichê da gíria televisiva que é citada na antesala dessa alegria vazia, à espera de que o mundo acabe sem escape: “entre um zap e outro zap∕ shit fuck trash crap∕ todo dia ele espera∕ hip rock hop rap∕ que o mundo acabe∕ tudo já era ∕não há quem escape∕ oi            galera”.

 

Haverá escape? Haverá saída para o caos contemporâneo? Na arte a saída se constrói pelo exercício de leitura que se faz do mundo: ou seja, para falar juntamente com o Professor João Alexandre Barbosa, faz-se ao “subtrair da experiência a ilusão da permanência, impondo ao vivido o transitório das imagens capazes de retornar, já transformadas por aquela experiência, como uma outra ilusão: a possibilidade de retorno.” (BARBOSA, 1980, p. 47) Os olhos da poesia nunca estão vendados. No caos de que se reveste o presente, a poesia que sente arquiteta a textura de suas fraturas e com elas constrói uma arquitextura do caos de que emerge, e no qual se inscreve, como escritura de seu tempo.

 

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Susanna Busato, UNESP/ São José do Rio Preto.

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