ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

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ANASOR ED SEAROM


Circunvolução à obra de Anasor ed Searom
ou Da probabilidade à transubstanciação na arte contemporânea.

 

“Considerar as obras de arte de um ponto de vista analítico é submete-las, de algum modo, àqueles espelhos do templo de Esmirna, que só refletiam as mais belas imagens deformando-as”.
— Edgar Allan Poe

 

por Caio Lucius Asmodeus

 

Adentrar o mundo de Anasor ed Searom sempre será uma aventura única e singular, que ao  apropriar-se dos meandros de nossa imaginação coletiva leva-nos por um caminho subterrâneo e onírico em que sonhos e pesadelos confundem-se em miríades de fragmentos de uma realidade deformada na qual temos a nítida impressão de que iremos sufocar. A obra de Anasor tem um sentido agudo de transformação e mudança a qual força-nos a um verdadeiro vórtice em que a própria realidade é submergida junto as nossas impressões mais primevas e subjacentes de um universo mítico que adormece desde a infância em nossas consciências.

São seres abjetos que delineiam-se pelos quadros e adentram  em nosso espírito, são espectros a vagar em nossas mentes formados apenas de linha e cor aprisionadas no calabouço de uma tela, mas não deixamos nossa razão impor-se e sujeitamos nossas emoções ao medo, ao profano, ao inusitado, ao sórdido, ao grotesco e por vezes convencemo-nos de que talvez isto seja o belo.

Não há caminhos de como adentrar-se neste pequeno universo e talvez a viagem em torno de suas criações de maneira sinuosa e continuada que podemos chamar circunvolução seja se não a mais correta pelo menos a mais possível, sua obra é a transubstanciação deste mundo em que vivemos povoado de guerras, misérias, destruição, opressão e morte. Uma obra que nos entorpece como um labirinto em que após nele adentrarmo-nos nunca conseguimos nos desvencilhar totalmente da teia com que Anasor nos oprime, uma obra que nos leva para lugares ermos, solitários e sombrios em que o homem antropofagicamente é o lobo de si próprio, enfim é uma obra que não procura como tema as vias retas   mas os desvios que o homem sub-repticiamente tenta esconder de sua história e que surpreende-se como diante de um espelho deformado ao deparar-se com sua própria alma. Um mundo que parece nos exigir uma arte que seja uma resposta ao peso que oprime nosso cérebro todos os dias que voltamos de nossos sonhos, um mundo em que o pesadelo pode ainda nos distrair de uma realidade muito mais severa; e para este mundo como para a obra de Anasor ed Searom não há guias nem condutores a não ser a circunvolução e o vórtice de nossas mentes em busca do significado e da compreensão, que só podem servir-nos de guia as palavras de Dante às portas  do Inferno:

“Qui si convien lasciare ogni sospetto;
Ogni viltá convien che qui sia morta.[1]

 



[1] Aqui se convém  deixar todos os receios;
Convém matar aqui toda covardia.  (Dante  La Divina Comedia)

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