ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

GALERIA

SOBRE A EXPOSIÇÃO VINTE E TRÊS

 

 

 Foto de Maikel da Maia

 

 

Ana González.

 

 

VINTE E TRES é uma série de vinte e cinco gravuras onde a imagem de um mesmo menino nunca é a mesma. Ela surge entre traços e elementos apenas suficientes para possibilitar a identificação de um retrato de meio corpo, formato tradicional.  O que nos faz pensar num retrato é o conjunto de poucos elementos que evocam um menino sem o descrever.  Cada gravura contém o desenho do menino, mas a imagem varia ao sabor da multiplicação de um gesto que risca e escurece o retrato, marcas de um toque que se repete sobre uma imagem que escapa. Vinte e cinco é o número de anos do artista e, na obra, de impulsos que resgatam frações de passado - esforços que buscam a legitimidade de uma imagem que jamais se completa, que vai se configurando em camadas de tempo anteriores ao presente. A operação procura estabelecer conexões entre tempos diferentes, atualizar a imagem em meio à complexidade de processos que envolvem noções de marca e o que podemos entender por memória no presente.

O que percebemos é real? Se memória pode ser considerada como um sistema que  registra fatos, pensamentos e coisas materiais e imateriais, um instrumento poderoso em nossa busca de conhecimento, que ligação ela manteria com o real, se o que consideramos real passa inevitavelmente por interpretação subjetiva?

Por que identificamos como desenhos de caixas de embalagens de remédios a série de obras intitulada COM ALGUÉM DO NOSSO LADO TUDO FICA MAIS TRANQUILO?

A linha externa do desenho dessas caixas foi obtida através da ação de contornar embalagens de remédios. As formas e cores que aparecem na parte interna desses limites são escolhas arbitrárias, mesmo que baseadas em características reais que excluem qualquer nome ou texto inscrito na embalagem original. Como sabemos que são de remédios e não de outro produto qualquer? Assim como o retrato do menino – na verdade um auto-retrato, elaborado a partir da foto mais antiga da vida do artista -, os desenhos guardam características que se aproximam dessa imagem/resíduo que fixamos na memória e que sacamos apenas quando necessário.

 

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Leia também: Exposições e atividades, sobre o artista e obras.

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