CLAUDIO DANIEL
*
sombra de árvore:
conto apenas a você
o que disse o vento
*
primeiro dia do ano:
corpos sem nome
nas águas do rio
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após a chuva de inverno
a menina rega
o ipê amarelo
*
pequenas misérias de maio:
onde eu estou
é qualquer parte
*
formiga na grama:
passa sem pressa
ou telefone celular
*
moça no metrô
borboleta de verão
tatuada nas tetas
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galho seco; noite
escura; folhas e medos
amarelecendo
*
o tempo? viagem
do pó ao pó — os pés,
os paus e pedras
*
fêmea tão-somente
negra quanto água
da cascata irreal
*
praia de corais
— mulheres de água,
peixes de luz
*
esse canto
é azul, azul, azul
quase branco
*
vencer não é tudo
disse o cego
para o mudo
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Claudio Daniel, poeta, tradutor e ensaísta. Mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Publicou, entre outros títulos, os livros de poesia Sutra (1992), Yumê (1999), A sombra do leopardo (2001, prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, oferecido pela revista CULT), Figuras Metálicas (2005), Fera Bifronte (2009), que recebeu a bolsa de criação literária da Funarte em 2008, e Letra Negra (2010). No campo da ficção, publicou o livro de contos Romanceiro de Dona Virgo (2004).
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