1919 / 2009
Claudio Willer
Sim: 1919 como data inicial do surrealismo, e não 1924, como consta em quase todo lugar. O Manifesto do surrealismo de Breton, junto com o lançamento da revista La révolution surréaliste (A revolução surrealista), acompanhado por outras obras, como Une vague de rêves (Uma vaga de sonhos) de Louis Aragon, pelo lançamento da revista La révolution surréaliste e pela criação de um “bureau de pesquisas surrealistas” foi a proclamação de um movimento que já existia. Essa datação, adotada por Alexandrian e Chénieux-Gendron, toma como marco inicial a criação da revista Littérature por Breton, Aragon e Philippe Soupault, coincidindo com a descoberta e primeiras experiências de escrita automática, das quais resultaram Les champs magnétiques (Os Campos Magnéticos), parceria de Breton e Soupault. Iniciando o surrealismo em 1924, seriam pré-surrealistas obras de Breton como Clair de Terre e Les pas perdus, o Aragon de Feu de joie, o Éluard de Poésies etc. O Manifesto do surrealismo de outubro de 1924 teve como intenção definir fronteiras, garantir a posse do termo criado por Apollinaire (para designar sua peça Les mammelles de Tirésias, Os mamilos de Tirésias), e antes, como “sobrenaturalismo”, por Gérard de Nerval e Baudelaire. Isso, por já ser usado com outros propósitos: como informa Chénieux-Gendron, em maio de 1924 pelo jornal Paris-Soir e em outubro daquele ano com a fundação da revista Surréalisme por Ivan Goll. O manifesto de Breton ter sido reconhecido como substancioso resolveu as dúvidas sobre a utilização do termo. Essa cronologia permite a correção de outra caracterização freqüente na bibliografia mais escolar, do surrealismo como “racha”, dissidência, desdobramento ou emanação de dadá, o movimento que eclodiu na Suiça, em Zurique, em 1916, para logo espalhar-se pela Europa, e que, entre 1920 e 1923, se associaria aos surrealistas. |