ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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FERNANDO ALVES DOS SANTOS

 

 

 

 

CAIA A GRANDE NEBLINA

 

Sob a grande neblina

livre e monge

mil e quinhentas donzelas

protegem o meu pulso mineral e morto.

 

Procuro no meu sangue. Encontro? Encontro, meu amor, encontro?

Alto mar

as imagens acordam uma surpresa.

Braço no braço uma meiguice sagra-me pajem das tuas mãos.

 

Dormem. Deixá-lo! Mas já a minha voz acorda os esponsais.

 

Brilha que brilha medito:

melhor se me afigura a noite sem termo.

 

Levanto o teu retrato ao plano dos meus olhos

- assim cheguei

porque suceda em breve agitado e nervoso o meu corpo

e ainda verás nele claro espelho do teu esplendor.

 

 

 

RECORDAÇÃO

 

Era eu pequeno e que gestos que tempestades de oiro punha nos vidros da janela para me fazer herói na própria sombra que temia.

Uma agonia no meu corpo não me deixou ver a claridade com que os meus me beijavam. Vivia muito perto do sol que os adolescentes cobrem de beijos com a alegria com que alargam a fronte.

E o meu corpo doente na manhã indiferente ressurgiu nessa luz que realiza a morte e a vida.

 

 

 

*

Fernando Alves dos Santos nasceu em Lisboa em 1928. Participou do grupo Os Surrealistas. A sua poesia foi editada de forma dispersa em antologias, revistas e catálogos. Morreu em 1992.

*

 

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