HORÁCIO COSTA
NO CEMITÉRIO DO ARAÇÁ
ao Rodrigo de Souza Leão, in memoriam
I
Os gatos negros do Cemitério do Araçá
Não se esgueiram entre os túmulos :
São os seus donos verdadeiros,
Delidos os nomes dos enterrados
E sem sentido, no al di là, as
Genealogias das famílias imigrantes.
Fixam-me com os seus olhos luminescentes
E é como se minhas pernas súbito
Pesassem mais: impõe-se-me parar
E render-lhes homenagem
Mas sigo adiante, desgarbosamente.
Do Araçá podemos observar a cidade
Ao longe: prismas resplandecentes
No meio da tarde.
Mas retenho apenas o olhar senhorial
Desses gatos negros.
II
Escuta: será o teu coração
Que se agita quando te sentes visto
-melhor: escrutinizado- por esses
Felinos olhos verdes?
Porque escutas
Um insistente tamborilar
Que sentes
Como se originário de dentro de ti:
Não, não é o teu coração
Que faz este ruído compassado
(vai, caminha, não é a tua hora
ainda)
:
No tronco seco de uma árvore
Em pleno Cemitério do Araçá
Divisas
-presença que resgata o agora-
Um pica-pau em sua labuta
-indiferente a ti, à metrópole,
aos gatos negros-.
SP 29 VI 09
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