O DEDO NA FERIDA DO NU
Célia Musilli
Célia Musilli
Espelho, espelho meu, espelho, espelho seu. Abordar a nudez é colocar o dedo no narcisismo do corpo contemporâneo midiático, carnavalizado, em busca de outras inscrições culturais, porque no corpo se inscreve a grande aventura humana.
Nas próximas páginas, você vai ver o nu artístico, o nu erótico, o nu poético, o nu bizarro, o nu de protesto que extrapola medidas e joga fora a água da bacia da beleza, com a censura dentro.
Este caderno especial sobre o nu – feito a convite do editor da revista Zunái Claudio Daniel - nasceu num momento de emergência, quando um grupo de pessoas se organizou numa das redes sociais mais conhecidas do planeta, o Facebook, para instaurar a livre manifestação do corpo em textos e imagens, boicotadas por estrábicas “medidas de segurança”.
Artistas, professores, escritores, sociólogos, poetas, psicanalistas, donas de casa, estudantes, reuniram-se numa página que começou com cinco pessoas e chegou a 1800 espalhando a nudez por toda a rede. Mas veio a censura de dentro – dos administradores do site – e veio a censura de fora – de quem denuncia os “infratores” porque considera o corpo uma vergonha.
Criado o impasse, veio a polêmica nacional que gerou artigos em sites, blogs e jornais, tendo seu clímax entre fins de fevereiro e 12 de março de 2012, quando aconteceu o Dia do Nu no FB, nomeado em consonância com o Dia da Livre Expressão, criado pela organização dos Repórteres Sem Fronteiras. Assim, colocamos em xeque o corpo - esvaziado de sentidos apesar de tanta exposição - na tentativa de propor novas leituras e levantar camadas.
Os fios desta trama, desta novela feita de carne, ossos e músculos, que desnudou os ecos do ridículo de quem censura o nu na Idade Mídia, nos fez refletir e desdobrar a discussão em depoimentos, ensaios, entrevistas, artigos, poemas e imagens, muitas imagens, que arrebentam com o espelho, espelho meu, arrebentam com o espelho, espelho seu, espalhando e reunindo os cacos do corpo que continua totem e... tabu.
Boa leitura!
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