ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 BEATRIZ BAJO



Nu Couché (Zinaida Serebriakova)

  

O Dia da Livre Manifestação do Nu no Facebook foi o do desvendamento, em que as pessoas mostraram como elas são, sendo o corpo uma ferramenta da vontade da alma aberta ao mundo das abotoaduras. Por acaso em nosso planeta as pessoas nascem vestidas? Temos diversos instrumentos (ou poderes) para a expressão pessoal, espírito, alma e corpo. Isso é o que somos, a roupa é o elmo, a armadura, ou a farsa confortável. Qual a sua função? Minimizar as diferenças. A roupa guarda as cicatrizes, porque há fragilidade na nudez. Por que há fragilidade na nudez? A exposição é algo repudiado pelos fracos. Mas por que quem repudia a exposição está na virtualidade, está num site de relacionamento?

É preciso esclarecer que vivemos em um país cuja Constituição contempla a liberdade de expressão, portanto, não entendo porque páginas de pessoas - artistas, sobretudo - estavam e ainda estão sendo bloqueadas por postar fotos de nus, sobretudo, no Facebook. E isso não é defesa da pornografia, que não me agrada, nunca me interessou, mas, de nu artístico, de nu natural, de nu que é o original de todos nós. No Brasil, principalmente, comportamentos repelentes da nudez são um disparate.

No país do carnaval, dos programas de auditório (baixíssimos calões), novelas, "o país tropical", é de gargalhar. Agora os artistas são o calinho do site, do mundo mascaradamente contemporâneo. Atenção, poetas, fotógrafos, pintores, artistas plásticos, vocês podem criar, mas...

Hipocrisia é o ranço da sociedade, o câncer dos sistemas, o nosso, por exemplo. Democrático pra quem? As pessoas têm de saber que estamos nus e desarmados no mundo e no Brasil. Ao menos, eu e minha gente, os artistas e os delicados de todas as espécies. Mas, apenas aparentemente, porque nossas armas não são flagrantes, mas poderosas: inteligência, criatividade e sensibilidade.

A minha arma é a palavra. Então, tenho dito: a pele que habito é nua, crua e tatuada com a agulha da natureza, inédita e singela a cada exposição.

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Beatriz Bajo (Londrina – PR), poeta, diretora-geral da Rubra Cartoneira Editorial, revisora, tradutora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ).

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