ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 LUÍS FONSECA



Flor Garduño (Vestido Elegante)

 

“Os cristãos primitivos consideraram as obras de arte da Grécia e de Roma profundamente perturbadoras. Na sua tentativa para evitar que os cristãos contemplassem tais coisas, os primeiros teólogos mostraram-se bastante acrimoniosos. No que se refere a Clemente de Alexandria, ter um quadro de Afrodite na parede era tão pecaminoso como cometer um crime sexual terrível. «Declaramos que é proibido contemplar tais coisas…Os vossos olhos prostituíram-se, a vossa visão cometeu adultério.» (Simon Goldhill, “Amor, Sexo e Tragédia”, Trd. Maria da Graça Caldeira,pg.159)”

Continuamos a ter uma relação ambivalente com a representação do corpo nu. Os últimos cinquenta anos, foram de uma profunda revolução social, cultural, e de costumes. Mas temos enraizado no nosso código genético, alguns dogmas, construídos em dois mil anos de Cristianismo.

A internet veio permitir democratizar o acesso imaterial aos bens culturais. Tudo, podemos admirar livremente. No entanto, rapidamente tiveram que ser criadas restrições, por causa dessa mesma liberdade. E, do seu abuso. A censura começou a aparecer amiúde, em relação a algumas obras de arte, representando o corpo nu.

O Facebook, veio exponenciar a liberdade permitida pela internet, permitindo a rápida partilha, e difusão de obras e textos.

No entanto, surgiu um novo fator: a denúncia. A denúncia, é um dos piores atos do ser humano, porque permite tudo. Cristo foi denunciado, da mesma forma que muitas das pessoas que publicam, fotografias ou reproduções de obras de arte, também o são. Em nome de uma arbitrariedade de pensamento que não representa a liberdade.

 

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Luís Fonseca (Porto – Portugal) é fotógrafo.

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