PAULA FREITAS
Foto: Robert Mapplethorpe
Face aos atuais boicotes no Facebook com respeito a fotos de nudez explícita (artística ou não), a mim cabem dois eixos de reflexão:
Primeiro: qual o sentido deste boicote, uma vez que vivemos num contexto midiático altamente erotizado e de maneira vulgar?
Segundo: será que o nu já não foi usado excessivamente como forma de protesto, o que pode, hipoteticamente, banalizá-lo?
Quanto à primeira questão, a resposta me parece um sensível retrocesso moral em relação às conquistas realizadas pela geração de 60, o que implica em uma sociedade que não se desprendeu, ainda, do valor cristão de que "corpo é pecado".
Quanto à segunda, parece-me que, ao refletir sobre este ponto, é desnecessária também a valoração excessiva da nudez humana como "transgressão" (embora isso se faça pertinente quando do embate desta ideia com a barreira moral retrógrada ainda existente).
A nudez é simplesmente a nudez, sob o prisma que for, creio que é isto o necessário a ser apreendido, esta naturalidade.
Ainda coloco uma terceira questão a ser pensada: por que, com todo este combate, ainda hoje é de mais fácil acesso o nu feminino do que o masculino? Não responderei.
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Paula Freitas (São Paulo - SP) é escritora.
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