ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

O experimentalismo na arte poética de Vinícius Lima

 

Ana Aly

 

Quando fui convidada por Vinícius Lima para apresentar sua poesia na revista ZUNAI senti-me diante de um desafio que me deixava muito orgulhosa e ao mesmo tempo hesitante. Perguntava-me se eu seria mesmo a pessoa mais indicada para fazê-lo, pois não me considero especializada no assunto.

 

Sendo assim, preferi interpretar que investir em mim para esse papel seria uma oportunidade, ainda que de maneira indireta, de homenagear quem, na verdade, deveria ter sido o real autor desse texto, até porque, o meu caminho na criação poética esteve ligado a quem me refiro (daí eu concluir as razões que levaram Vinícius Lima ao afortunado convite). Falo de Philadelpho Menezes. Falecido prematuramente aos 40 anos acabados de completar, o poeta, ensaísta, teórico, professor, produtor artístico-cultural e introdutor da pesquisa em poesia sonora no país foi um dos maiores pesquisadores na trajetória da poesia brasileira que incorpora a visualidade, a sonoridade até as novas mídias ao poema já não mais apenas versificado.

 

Como parceira de suas criações em poesia visual e também esposa, acompanhei e participei de muitos dos eventos dos que se aventuraram no campo dessa “arte de especialistas da linguagem que, em regra, tem plena consciência dos instrumentos utilizados na construção de um poema: a fundamentação teórica alicerça a prática da criação, seja em simples manifestos, seja em textos críticos que acompanham o processo dos movimentos da poesia contemporânea”. (“Poética e Visualidade: Uma Trajetória da Poesia Brasileira Contemporânea” Editora da Unicamp 1991 pg.9).

 

O poeta Vinícius Lima também se propõe ao desafio dessa poesia que articula códigos não-verbais. E se supera a cada experimentalismo ao perpassar entre o poema através da  palavra espacializada/gráfico-visual/sonoro/midiático transitando por diversos e diferentes suportes. Sem dúvida, sua inquietação aponta para novos caminhos da poesia que, a meu ver, está ficando cada vez mais mental pela quantidade de signos reunidos com sentido.

 

O poema “O Grito”  parece “resumir” toda a inquietação do autor, numa espécie de denúncia visual daquilo que deveria ser feito através da voz : berrar!’

 

“ÁR VO RE a folha vê  RE VO AR “ é um haicai anagramático, no qual apenas o elemento cor ( verde da folha de papel ) faz a transposição palavra –imagem para a cena poética que nos é sugerida das folhas da árvore contemplando os pássaros.

 

Para concluir, não posso deixar de comentar sobre o poema-sonoro intitulado IMPROVISO ELTROACÚSTICO onde a presença de humor é provocada tanto pela estranheza dos experimentos sonoros, quanto pelo próprio autor que o conclui num “gesto” de quem também está participando dessa diversão ao falar ou grunhir que o seu sentimento pessoal.

 

Dessa maneira a dinâmica da poesia de Vinícius Lima tem um percurso poético que passa pela variabilidade necessária aos não conformistas que estão eternamente perseguindo a modificação e/ou evolução de uma língua, em algum ou vários de seus subsistemas (fonético, morfológico, fonológico, sintático, léxico e semântico, gráfico), bem como da inter-relação de linguagens simultâneas numa nova estética das artes e comunicações.

 

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Ana Aly é artista plástica e poeta-visual. Realizou artes-finais e foi capista de publicações para poetas visuais tais como Décio Pignatari, Philadelpho   Menezes e Florivaldo Menezes. Na internet: www.anaaly.art.br.

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