ADRIANA MONTEIRO DE BARROS
UNHAS VERMELHAS
Em momentos de cólera, olho minhas unhas vermelhas
e sinto escorrerem gotas de sangue que teimam em sujar
a brancura alva do meu corpo, enquanto rôo minhas unhas
até o vermelho esmalte tornar-se o vermelho sangue
que escorre cristalino e incolor sobre o negrume da minha alma.
29 de fev/2008
METAMORFOSE
Sombra genuína em meu corpo,
carrega um rio seco que amputa ossos e dentes.
Melancolia e melodias, um atalho...
um pouco do que a vida mostrou
sem cacos em espelhos de gestos repartidos.
Meus medos gemem e uivam feito lobos atrás de carniça.
Eis o meu corpo atado como estilhaço.
Eis o fel que escorre do coração,
sobre mãos que insistem em perpetuar alguns versos no escuro da hora.
Eis-me aqui quase inteira para o seu repasto.
TODA VIDA UIVA
Para Chacal
Inspirado no título do livro A vida é curta para ser pequena
As borboletas não são azuis nem o céu é cinzento.
Eu, gaivota que não tenho pouso certo,
que rasgo o ar em busca de novos céus,
que me arremesso contra oceanos em troca de alimento,
sublimo as verdades absolutas,
afirmo que a liberdade é invisível
toda vida é curta para ser amorfa.
Só a chuva tem cheiro
e todo amor é um universo de poemas
e arde...
MEU PÉ DIREITO
As vozes que escuto são frias
como frio é o sangue que desliza pelos poros.
Há dias conto os dedos do pé entre devaneios de coca-cola
e algum prazer.
Vivo a me quebrar.
Quebro a perna, cara, coração
mas cara não se enfaixa, se expõe a cicatriz.
Então lenta e calmamente definho na veia
e nos veios dos descaminhos.
A monotonia dos dias chega de manso
como as coisas que ainda planejo fazer.
E quando a noite me cai com seus olhos negros
e me sobrevoa driblando tantas dores, amores
e outros gritos...
com ela vomito cicatrizes
e alguns cacos de vidro. |