ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ADRIANA ZAPPAROLI


Lutra-lutra

um dos caminhos era aquele: aquático. respirava distante e diante da sua pelagem espessa, brilhante e uniformemente castanha, com exceção da região do ventre. dEle o corpo, a cabeça e os olhos pequenos, movia-se leme a longa cauda, afilada na ponta, quase espada. indecisa a presença dEla. enquanto mergulhava submersa em seu interior, o impulso das patas. dEle sentia o movimento sinuoso do corpo. continha. aquela uma lontrafagia poética de peixe-anfíbio, reptílica ave aquática. ética lírica. seus sistemas de galerias, suas entradas de zonas rochosas, suas entranhas, umas subaquáticas e outras ao nível do solo.


Scorpione

a andarilha do deserto negro abandonava, algumas vezes, os seus olhos lagartos ao respirar a essência daquelas sílabas. a gramática monossilábica daquele pensamento escorpião de palpos compridos, demasiado horrendo e paralisante, demorava-se em sua mente. mergulhada nas águas profundas de pedras marsupiais, capturava a luz dum escuro oco de proteção. os seus sonhos prematuros estavam quase liquefeitos. vagava à noite,quando um soluço escapou de seus lábios de atmosfera e pétalas trituradas. com suas cascas em ecdise atravessou mais uma porta de fechar atrás de si. e foi então que ele, cheio de coragem, levantou-se ofídico, Asclépio, à margem daquelas águas.

Bailarina Caleidoscópica

No cântico da parede vermelha, o som transbordava o móvel, que observava a tudo, do canto de seus olhos lenhosos. A cama hiperbólica espelhava a próxima hora de lençol branco e travesseiro de pluma de ganso. Enquanto uma onda perfumada vagava pela porta à dentro, filtrando todos os raios de ocelo masculino. Naquela hora borboleta, onde a felicidade vive(u), ela inteira, sobretudo, lagarta e metamorfose.Uma bailarina e sua probóscide de sugar néctar. A espera. A persiana de vidro contava muito mais, sobre o final da tarde, ao jardim de luz.

Facochero

disforme, possante, máquina de guerra esculpida a tinta. suponha-se uma
cabeça de porco entulhada e encardida por grandes verrugas felpudas e tufadas de pêlos brancos, outros, molares e colmilhos recurvados. uma fealdade
inconcebível, de cinegéticas presas e narinas. insípidas as suas garras feito enxada de cor vermelha - navalha e cerda rara. a cauda pouco elaborada carregada pela tristeza do dorso em região erma. a solidão da mata espessa, rugindo.


vulpes

via o zelo da alma e do corpo com um olho esguio de curar cada cílio. o corpo-tórax, movia-se frio traduzindo o silêncio tênue, dos espaços entre as falanges dos dedos alongados e unidos pelos lados, por uma membrana etérea e íntegra cor de lápis-lazúli. a língua bífida de radar pugilista localizava a paz tísica em hábitos gregários, sobre os telhados crepusculares de saliva anticoagulante. beijava delicado. aquela que era a entrega em caixa de música e reproduzida melodia em disco de vinil. um comportamento trófico. carinhoso proporcionava o vôo trópico acrobático ou plano. ele quase uma raposa voadora.


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a unha cega desfolha a sua camada queratinizada de esmalte laranja. revestida de porcelana manga, uma lasca de vidro entalhado. contaminados os olhos vomitam as alegorias aos sábados, enquanto a bulimia da dor e do amor traduz a vida na pia do banheiro. mas a falta de perspectiva e os embolados extratos bancários continuam derramando todos os cabelos, que entopem os ralos ou prendem-se ao espelho.medos:cacos humanos expostos num vaso gris.

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movimenta-se em tanque de água turmalina mediante a força da luz.estranhamente.a solução está na ponta de sua língua bífida de lamber orelha comestível:aquela que tortura, seguida a mamada lúcida e intensa em lóbulo esquerdo.com o calor, o contato do silêncio no tempo oxigenado é maior.então, escorre vórtice. sem solução... porque agora cansada, ela transmuta o choque proveniente de sua cidade internamente aquática e estereotipada. pairando um suor laríngeo, a resposta ainda continua dentro.ela segue.

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do amor, talvez, um panda arredio castanho-avermelhado e descabido, feito prole que se prende firmemente a um mamilo. solitário e estampado no ladrilho, segue o laivo do dedo comprido e ornamentado, rasgado por uma lasca de alumínio pelo lado, escorrido do sangue lacrimogêneo dum amor ferido. um panda castanho-avermelhado. mas observado, o rival de pata felpuda, assusta-se com a face de poesia e silêncio...

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verte a lágrima koala com um suspiro doce de limão. ele... um integrante preciso da laje de isopor e teto invisível. no chão. o besouro roda em circulo morango revolvendo cítrico a lâmina dum carpete de madeira. manga. um capacete calando em cadência suas antenas articuladas.mas a essência do musgo do carvalho transborda a larva presa, sua mandíbula de foice e cabeça franjada. um sentimento inalterado rodando numa bola de lama e náusea verbal. solapando fogo, a linfa contorna a cavidade cardíaca da solidão.a sua.a dele ...

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Adriana Zapparoli é poeta e atualmente doutoranda em Farmacologia pela Universidade de Campinas. Sua página na Internet http://zeniteblog.zip.net/

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