Lutra-lutra
um dos caminhos era aquele: aquático. respirava distante
e diante da sua pelagem espessa, brilhante e uniformemente
castanha, com exceção da região do ventre.
dEle o corpo, a cabeça e os olhos pequenos, movia-se
leme a longa cauda, afilada na ponta, quase espada. indecisa
a presença dEla. enquanto mergulhava submersa em seu
interior, o impulso das patas. dEle sentia o movimento sinuoso
do corpo. continha. aquela uma lontrafagia poética
de peixe-anfíbio, reptílica ave aquática.
ética lírica. seus sistemas de galerias, suas
entradas de zonas rochosas, suas entranhas, umas subaquáticas
e outras ao nível do solo.
Scorpione
a andarilha do deserto negro abandonava, algumas vezes, os
seus olhos lagartos ao respirar a essência daquelas
sílabas. a gramática monossilábica daquele
pensamento escorpião de palpos compridos, demasiado
horrendo e paralisante, demorava-se em sua mente. mergulhada
nas águas profundas de pedras marsupiais, capturava
a luz dum escuro oco de proteção. os seus sonhos
prematuros estavam quase liquefeitos. vagava à noite,quando
um soluço escapou de seus lábios de atmosfera
e pétalas trituradas. com suas cascas em ecdise atravessou
mais uma porta de fechar atrás de si. e foi então
que ele, cheio de coragem, levantou-se ofídico, Asclépio,
à margem daquelas águas.
Bailarina Caleidoscópica
No cântico da parede
vermelha, o som transbordava o móvel, que observava
a tudo, do canto de seus olhos lenhosos. A cama hiperbólica
espelhava a próxima hora de lençol branco e
travesseiro de pluma de ganso. Enquanto uma onda perfumada
vagava pela porta à dentro, filtrando todos os raios
de ocelo masculino. Naquela hora borboleta, onde a felicidade
vive(u), ela inteira, sobretudo, lagarta e metamorfose.Uma
bailarina e sua probóscide de sugar néctar.
A espera. A persiana de vidro contava muito mais, sobre o
final da tarde, ao jardim de luz.
Facochero
disforme, possante, máquina de guerra esculpida a tinta.
suponha-se uma
cabeça de porco entulhada e encardida por grandes verrugas
felpudas e tufadas de pêlos brancos, outros, molares
e colmilhos recurvados. uma fealdade
inconcebível, de cinegéticas presas e narinas.
insípidas as suas garras feito enxada de cor vermelha
- navalha e cerda rara. a cauda pouco elaborada carregada
pela tristeza do dorso em região erma. a solidão
da mata espessa, rugindo.
vulpes
via o zelo da alma e do corpo com um olho esguio de curar
cada cílio. o corpo-tórax, movia-se frio traduzindo
o silêncio tênue, dos espaços entre as
falanges dos dedos alongados e unidos pelos lados, por uma
membrana etérea e íntegra cor de lápis-lazúli.
a língua bífida de radar pugilista localizava
a paz tísica em hábitos gregários, sobre
os telhados crepusculares de saliva anticoagulante. beijava
delicado. aquela que era a entrega em caixa de música
e reproduzida melodia em disco de vinil. um comportamento
trófico. carinhoso proporcionava o vôo trópico
acrobático ou plano. ele quase uma raposa voadora.
* * *
a unha cega desfolha a
sua camada queratinizada de esmalte laranja. revestida de
porcelana manga, uma lasca de vidro entalhado. contaminados
os olhos vomitam as alegorias aos sábados, enquanto
a bulimia da dor e do amor traduz a vida na pia do banheiro.
mas a falta de perspectiva e os embolados extratos bancários
continuam derramando todos os cabelos, que entopem os ralos
ou prendem-se ao espelho.medos:cacos humanos expostos num
vaso gris.
* * *
movimenta-se em tanque
de água turmalina mediante a força da luz.estranhamente.a
solução está na ponta de sua língua
bífida de lamber orelha comestível:aquela que
tortura, seguida a mamada lúcida e intensa em lóbulo
esquerdo.com o calor, o contato do silêncio no tempo
oxigenado é maior.então, escorre vórtice.
sem solução... porque agora cansada, ela transmuta
o choque proveniente de sua cidade internamente aquática
e estereotipada. pairando um suor laríngeo, a resposta
ainda continua dentro.ela segue.
* * *
do amor, talvez, um panda
arredio castanho-avermelhado e descabido, feito prole que
se prende firmemente a um mamilo. solitário e estampado
no ladrilho, segue o laivo do dedo comprido e ornamentado,
rasgado por uma lasca de alumínio pelo lado, escorrido
do sangue lacrimogêneo dum amor ferido. um panda castanho-avermelhado.
mas observado, o rival de pata felpuda, assusta-se com a face
de poesia e silêncio...
* * *
verte a lágrima
koala com um suspiro doce de limão. ele... um integrante
preciso da laje de isopor e teto invisível. no chão.
o besouro roda em circulo morango revolvendo cítrico
a lâmina dum carpete de madeira. manga. um capacete
calando em cadência suas antenas articuladas.mas a essência
do musgo do carvalho transborda a larva presa, sua mandíbula
de foice e cabeça franjada. um sentimento inalterado
rodando numa bola de lama e náusea verbal. solapando
fogo, a linfa contorna a cavidade cardíaca da solidão.a
sua.a dele ...