ORIKI
DE OGUM
Uma tenda coberta de mariwô
para o descanso do guerreiro que bebe
o vinho da palma e se alimenta do alguidar
com a caça que Odé trouxe do reino.
Exu foi
despachado e agora cavalga
por outras estradas, porque Ogum é guardião
do caminho e da lembrança de Zambi.
Banha-te
em sangue, ó guerreiro,
revigora
para que Ifé inteira te receba.
IYá
AGBá
(Nanã)
Em torno do lodo, Egum
procura haste rija para firmar-se,
onde o húmus caudaloso escamoteia
colunas podres e ramos débeis.
Nanã,
a velha,
flor vingativa do pântano,
estende-lhe seu ibiri.
Egum reconhece
a iabá,
mas ao saudar o pássaro lacrimoso,
Salubá se esvai no choro da criança
que Oxum ainda vai amparar.
ODÉ WAWÁ
(Oxóssi)
O templo tomba no cotovelo atado
do azulão que atroa frente à falange
jarro oleado
repositório de Caiabi
único pássaro branco que volteia pés
firmes no chão
antítese do equilíbrio entre tons de breu e
alume
no caminho
apiloado de nuvens
navalhas e o sabor agridoce de primavera.
OYÁ
(Iansã)
Menina afogueada fruta verde
virada na ponta do casco
brasa que anima o toque
ventania da savana
fagulha ligeira que esparrama
É
parreira alada, é Matamba
folha rebelde de Aruanda
ORIKI
DE IEMANJÁ
Rosa de andar ondulado
rodamoinho de espuma
pálpebra alada
pérola da penumba
Odô
Iyá, filha de Olokum
ventre repleto de escamas
Acolhe
em teu seio o refugo
gânglio encoberto de gazes
fogo da chaga
rosto sem face
Afrouxa
o ferrolho do teu reino
e recebe essa oferenda
Omulú, que a morte não leva,
é o filho que Oxalá te recomenda.
FATUMBI
Um vê púbico prenuncia viagem
de quem olhos rasos gesta
a idéia de renomear pedras
ifás estendem as mãos
formam caminhos dois solos
com ondas extremas.
Fatumbi, relâmpago do liame
entre o ontem e o sempre
apura os sentidos estrela guia
de Ori desata os últimos nós
enquanto o povo verga
e bolam os deuses.