ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ANTÔNIO MARIANO

Coveiro filósofo

“O coveiro é uma boa profissão, Mário.
Se aprende filosofia”.
Antonio Skármeta

Falar não é fácil,
diziam dos vivos, dos mortos.
É difícil erigir o discurso,
lápide que nunca os terá.

Epifanias despejam
a voz.

Habitam os epitáfios.


ALQUIMIA DO ÓDIO

A química de querer-te
sempre viva:

extrair pétalas,
moto-contínuo,
malmequer;

adicionar à fórmula
porções deste grito

(alheia dor que transcende
a essência dos mitos).


Aula de comunicação

Que machado,
astúcia de Sísifo, que-
brava o silêncio
entre os homens?

O gelo do pólo norte da fala.

Da Existência

“Não existe hora certa,
existe o meu relógio”.
Ildásio Tavares

O meu relógio existe
indiferente à hora
errada ou certa.
Abstrato ou concreto,
o meu relógio
ignora a lógica,
a convenção que me vence.
Noção particular
que mantenho do tempo.


*



Antônio Mariano de Lima nasceu em João Pessoa (PB), em 1964. É autor dos livros O gozo insólito (1991) e Te odeio com doçura (1995).

*

 

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