FOTOMONTAGENS
A taça Jules Rimet, roubada, depositada no altar da Basílica
de Aparecida.
O corpo nu de Gisele Bünchen plantada na Ceia de Cristo do
Michelangelo
como pão em oferenda.
O God Save the Queen colado na bandeira talibã.
Carne de porco devorada pelas tropas israelenses na
fronteira
e o festim dos urubus no banquete das Nações Unidas.
Contemplo a explosão da Casa Branca no filme recente do 007
e o entrelaçamento dos mistérios do Alcorão, da Bíblia e dos
Vedas
desvendados por um código ou teorema ou simulador de vôos
- ORIGEM COMUM DA HUMANIDADE, documentário veloz,
DNA primevo arrancado do Paraíso Terrenal.
Enxergo tudo e não vejo nada!!!
Estou aturdido, como num caleidoscópio, num videoclip,
compondo paisagens instantâneas, descartáveis,
renováveis, que se vão recompondo, em colagens,
alternando posições e sentidos.
Fragmentos de mim, de ti, de todos
assim expostos, estertores, recompostos numa holografia de
surrealidades,
hagiografia dos horrores.
Navegações planetárias, siderais, ciberespaciais enquanto
migro dos dedos de câimbra para os comandos cerebrais.
Tudo que é sólido se desfaz, ensina Marx em sua visão
totalitária
e fugaz.
Mas a paz: nunca mais!!!
Realidades instantâneas, simultâneas, em sua
contemporaneidade:
O FUTURO JÁ ERA
na era da informação
- passado e futuro no presente
passa
diço
e mutante
- volátil
idade.
VOZES FUTURAS VÊEM DO PASSADO.
Nos arquivos estão os vivos e os mortos em macabra
coetaneidade.
Em tal virtualidade, entro na igreja de São Francisco em
Ouro Preto,
percorro absorto as galerias do Louvre,
durmo nas alcovas de El Escorial,
saio pela arcadas triunfais do Partenon
e desço as ladeiras infernais da Favela da Rocinha
à realidade mais banal e cruel.
IDENTIDADE REVERSA
I
No Cuzco
a igreja está construída
sobre as ruínas
do templo dos incas:
tempo sobreposto.
Os lajedos superpostos
na perfeição suprema
da arquitetura nativa
resistindo aos sismos
e cataclismos.
As paredes
do templo colonial
envelhecem
em fissuras
e sustos.
Um templo dentro de outro templo,
uma cultura enxertada em outra cultura,
confrontando-se. Jamais se reconciliam.
II
Indígena/
indigna:
indignação
mas todos se persignam
em séculos de colonização!
Reverenciando
todos os santos
do calendário.
Na genuflexão
a alma cativa,
a sujeição.
Até quando?!
III
Que identidade é esta, de joelhos?
Que defesa de tradição é esta?
Penitentes jejuando,
flagelando-se
pelo cristianismo
que os converteu
e subjugou.
Cuzco, Peru, 12.09.2006