ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

ASTIER BASÍLIO

 

 

DIANTE DE UMA TELA DE WORD


incompleta a obra in vitro lateja língua como de cobra
o branco      sobre o branco

      
disparo de culatra nem arma havendo o cursor em coronha
dá de frente iluminando minha insônia de que todos os sonhos já foram
sonha

-dos  . Procuro em fontes o que me esgota, os tipos que rejunto
sorriem amarelos djavistos

que digito.

   
ainda não me perguntaram nada, mas tudo já foi dito

 

ÁLBUM

nenhuma imagem
salvou meu rosto

 

UGAR


onde o

desespero
escava um
nó exato.
Uma verdadeira
solidão

não seu relato,
o vazio mais intacto.
Descobrir um
caminho
e apagar os
rastros

 

AMARELO, MANGA

                               
(para cláudio assis e jomard)

minha cor  local
faminta é
num meio-
fio
curto

farpado circuito

come o cartão
postal de nossa senhora
derrota.

marquei hora com o tempo
e o sol move seus bispos e bilhetes
feito hiv algo no ar se acumula:
(se) acupuntura

o mapa que me guia, vindo
de minhas cicatrizes -
cateter

o sol cobra
condomínio ao seu lugar
girando em torno
de si e nos vencemos

o mundo é um coquetel molotov
e está por dentro de pentelhos.

IRREVERSÍVEL


depois do último círculo
é ao contrário qualquer final
feliz. O que se perde torna-se perfeito
quadro a quadro,  retrovisor:
a travessia em estilhaços.
E viver é um risco
no livre arbítrio de deus.
Só me resta montar minha agonia:
control v e o que inda não veio.

 

AMIGA,


o longe e o perto têm preço.
Com o ar que me falta
desaprendi todas as canções:

ou aceito os prazos ou os ventos.
Tudo é um teatro do mundo,
monumentos
se mudam - de nome e chão,
mas neles havendo.

A vida é uma raive
cada homem um suicídio
e o que me bate,
uma cotação,
uma ruga,
1 minuto de silêncio


COVER


quando o palco
fica pouco
e o canto não suporta
o rosto  

outro é o toque que transforma.
O aplauso
é um espelho gasto.
Dele - sequer a voz nem a canção.

Baixa um médium media
player.

FAHRENTEINT - 9/11


o mundo 
tem mínimas metades como
uma das
pragas do antigo testamento, como pó do fogo do deserto,
antraz, fileira, formigamento. Nuvem de
gafanhotos
subiu até os confins do não
pensado. Duas sombras faltam no mapa múndi.
Em silêncio, olhos de guerrilha ventaniam
até a medula, até onde o último arrepio
é mais apto do que uma

mira, do que a salvação  

CIRCUITO INTERNO


O que é puro
mal respira
com tanto espelho
em cerco e rachadura.

Era da imagem
que se partia a senha:
o hoje é um monstro
feito de olhos.

 

*

Astier Basílio é poeta e jornalista. Colaborou em veículos como o Correio das Artes, da Paraíba, e o site Cronópios. E-mail: astierb@uol.com.br.

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