BEATRIZ
AMARAL
Teorema
I
o
tempo do poema
é um círculo de fogo
que
os mitos visitam
à
noite
e
as salamandras em fila
designam
o
rito expande o verbo
:
espectro de luz
no
tronco da palavra
II
vê-la
acesa
como estrela
concisa
- a fala,
pedra
de moinho
lunar,
o
fio de afeto
dá-me
os verbos
epacta:
reverbera
crista
de gelo
imbrica
no tempo
dançante:
forma
de/mo/vê-la
III
invicto,
nos
porões,
estame
tocha
de luz
sobre
o caule:
pesponto
nada
se colore
ou
desborda
a
tinta finge -
amanhece
o
que
escurece
percurso
de toques:
espanto
mais
cedo, soprar
o
sol nos dedos
rejeição
nos ombros,
metáfora
na boca
IV
descrevo
o lago
mas
o perfil de garça
se
alastra
potência
-
o
ângulo do bico,
aresta
nenhuma
regra
esculpe
em pluma
um
sentido
limo
o gesto
no
branco,
onde
a ave:
mais
clara
V
raio
sincopado
na tarde
fosfóreo:
barco lilás
no
vácuo de espadas
meço
palavras
fração
entre brasas
:
o lago me basta
*
Beatriz Helena Ramos Amaral nasceu em São Paulo.
Tem oito livros publicados, seis de poesia, entre eles Encadeamentos
(1990), Planagem (1998) e Alquimia dos Círculos
(2003). Coordenou, na Secretaria Municipal de Cultura, o Ciclo
POESIA 96, bem como os ciclos "Clarice Lispector"
(1994), "Edgard Braga: cem anos" (1997) e "Sonoridades,
Visualidades, Movimentos da Poética Contemporânea"
(1997). Pertence à diretoria da UBE-SP. Integra várias
antologias, entre as quais Brasil 2000 - Antologia de Poesia
Contemporânea Brasileira (Ed. Alma Azul, Coimbra,
Portugal). Atualmente é mestranda em Literatura e Crítica
Literária na PUC-SP.
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