ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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BEATRIZ BAJO

 

 

 

 

7 inquietações

 

Eram as saias que pesavam dos alhos

dos olhos?

retiradas por dedos experientes

lambuzados de cortes e castos desejos

intactos?

arrancadas cadas cadas

as cascas frágeis das peles puídas

do tempo que não vai

deitar os cascos por dentro

dos colos?

descolados

tramando

incólumes invólucros

todos os upas vestidos com a sacra

pálpebra da ferida que enxerga além

aquém?

há quem sangre por despir-se

aos ventos que não mastigam tais vestes

prateadas

há facas de ponta sobre uma taquara

que mesmo inertes cortam certezas

relativas?

há jorros de loucuras cruas todas

todinhas

picadinhas em cubos quase idênticos

para a contensão dos anseios

inseparáveis

incompatíveis?

 

se tudo o que vejo está em mim

 

como separar-me dos outros?

como deslocar-se

                                   se

se

trata de uma cola outra, anterior

                        quente quente

verte mas não cai para fora do relógio

pulsante de todas as catacreses

soadas no dorso da língua

terreno inabitável dos hábitos

entreabertos ao sol lancinante

que lambe encruzilhadas

— onde vcs moram?

— num cílio.

 

 

certo miado

você me "ar"de a alma

que arranha o perolado

segredo costurado no véu

do olvido

e eu mio no vão latejante

que forja ouvir seu desejo

sem vidro

 

 

amoreverso

 

polaridades nas línguas indecisas/ polaroides em gravidezes negativas/ ampolas de translúcidas fissuras/ costelas frias flutuantes // para a armadilha do dia/ abotoadas no relâmpago do dizer/ douraduras afrouxadas pela fivela/ vestida daquela mania distraída// para quarar peitos aquarelas/ pincéis aos dedos sem anéis/ por fora dos fios da neblina/ purpurina deslizada na carcaça amolecida// que se assanha mata mina/ véspera do ocaso estremecendo manhãs/ entre os dentes quebrando avelãs/ talismã de desencanto e pranto

 

 

 

*

 

Beatriz Bajo (São Paulo/SP, 1980). Poeta, revisora, tradutora, professora de língua portuguesa e literatura, especialista em Literatura Brasileira (UERJ) e aluna especial do mestrado em Letras (UEL). a face do fogo é seu livro de estreia, pelo selo [e] editorial (uma parceria da Annablume com a Demônio Negro). O segundo livro, : a palavra é, foi lançado  pelas editoras Atritoart e Kan, de Londrina. Traduziu o livro Respiración del laberinto, do poeta mexicano Mario Papasquiaro, pelo Coletivo Dulcinéia Catadora e trabalha atualmente com uma novela, também mexicana, pela editora LetraSelvagem. Participou do livro de entrevistas Diálogos com a Literatura Brasileira - volume III, organizado por Marco Vasques (Movimento, Porto Alegre/RS; Letradágua, Joinville/SC, 2010). Além do blogue http://lindagraal.blogspot.com/, divide com seu parceiro Marcelo Ariel a manutenção do Esquina Literária (http://esquinaliteraria.blogspot.com/). Morou por 17 anos no Rio de Janeiro (RJ) e vive há 5 em Londrina.

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