ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 CASÉ LONTRA MARQUES 

 

 

                   De qualquer forma, estas pedras não suportariam tanto tempo
em contato com olhares nada
cardeais; certa metáfora, planando, abriu uma fresta
no céu da desorientação, depois
desapareceu através da vidraça ainda

precária. Quando o lábio incha como uma imagem
infeccionada, desconfio
dos dentes mas - sobretudo - daquela palavra

mais uma vez reinventada. A construção da manhã
continua tão sólida quanto
um trauma. Da direção da cidade, em meio
a muita brita, vem uma claridade que o poema,

podendo conseguir, não saberá evitar. A construção
da manhã segue tão versátil
quanto uma vertigem. Tentarei
falar antes que o silêncio desloque outra breve vértebra.

uma pálpebra repercute no ritmo
da claridade

produzida pela medula
durante o tremor de um êxtase

quase tolerável
pouco falta para

interromper o toque
da órbita

a substância decide
sua permanência

mas o fluxo
sequer conhece

o curso
da convulsão

 

* * *

 

Há uma incerta tensão no instante extenso em que
a luz transborda o copo de água, depois calcina
o sal desperdiçado sobre a mesa. Não solucionaremos
o quinto símbolo, enquanto
o janeiro da ausência estiver a pino. No tempo
do torpor, o branco do lírio
propõe um extermínio. Áridas
palavras tocaram
a claridade, sobretudo quando suadas de saliva.

 

* * *

 

Se a língua aprovasse
apenas

os prazeres do desastre: o paladar

passaria
sem este esquivo

horizonte

- entre
vivido - no alvo

(compacto)

da
voracidade

(como um

aço

no cio

do
ácido).

 

*

Casé Lontra Marques cursa Letras (Português) na Universidade Federal do Espírito Santo. Possui duas coletâneas inéditas: uma de poemas (Mares inacabados), outra de contos (Algo branco). 

*

 

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