De qualquer forma, estas
pedras não suportariam tanto tempo
em contato com olhares nada
cardeais; certa metáfora, planando, abriu uma fresta
no céu da desorientação, depois
desapareceu através da vidraça ainda
precária. Quando o lábio incha como uma imagem
infeccionada, desconfio
dos dentes mas - sobretudo - daquela palavra
mais uma vez reinventada. A construção da manhã
continua tão sólida quanto
um trauma. Da direção da cidade, em meio
a muita brita, vem uma claridade que o poema,
podendo conseguir, não saberá evitar. A construção
da manhã segue tão versátil
quanto uma vertigem. Tentarei
falar antes que o silêncio desloque outra breve vértebra.
uma pálpebra repercute no ritmo
da claridade
produzida pela medula
durante o tremor de um êxtase
quase tolerável
pouco falta para
interromper o toque
da órbita
a substância decide
sua permanência
mas o fluxo
sequer conhece
o curso
da convulsão
* * *
Há uma incerta tensão no instante extenso em que
a luz transborda o copo de água, depois calcina
o sal desperdiçado sobre a mesa. Não solucionaremos
o quinto símbolo, enquanto
o janeiro da ausência estiver a pino. No tempo
do torpor, o branco do lírio
propõe um extermínio. Áridas
palavras tocaram
a claridade, sobretudo quando suadas de saliva.
* * *
Se a língua aprovasse
apenas
os prazeres do desastre: o paladar
passaria
sem este esquivo
horizonte
- entre
vivido - no alvo
(compacto)
da
voracidade
(como um
aço
no cio
do
ácido).