ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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CÉLIA ABILA

 

 

 

 

ROTA HALTERN 70 OU A ROTA DOS LÁBIOS ESTAMPADOS

 

>I

 

ao trilhar um caminho de volta a um lugar não cítrico

penso em buquê do teu corpo acervo

 

rampa modernista de concreto e vidro

argamassa essência

em vaso arcaico de cor primária

plissado em meus braços

 

como se um frasco em forma de ânfora

mítico e característico

encontrasse um vulto de luz

ou música em tabla de origem hindu

 

ou ainda

 

vínculo de um clima

úmido e não árido

na Quinta do Rouxinol

guardado em bens frutados

 

 

 

 

>>II

 

penso em ondulantes fluidos arraigados nas cetárias das praias

 

argumento em jardim

de jasmim- árabe da Tunísia em síntese

 

assim

 

nenhum deus há de se esconder nelas

apenas uma idéia

uma idéia moderna

 

pergaminhamos juntos em piso de plurigoma

cacos de antepassados  numa redoma

 

despertam

 

vegetação estranha de ylang- ylang

num ensaio de perfume manso

 

nota de cabeça

coração e fundo

 

espalham pela costa da Calábria

nota de saída pelos bosques

das laranjeiras e bergamotas

 

 

 

 

>>>III

 

penso em volume de sigillata hispânica e africana

 

como se uma procura da elite itálica

viajasse no cheiro da beleza

por um longo panorama

 

unindo

 

cerâmica comum e de mesa

num círculo único de paredes finas

vermelho rubi no vinho das esferas

 

natureza nova contrasta

semelhanças nossas

em sítios de naufrágios

 

 

 

 

 >>>>IV

 

penso em navio bolinando o vento

enquanto

contemplamos o solo

e agonia das flores mortas

cobertas por códigos  e outras idéias

 

clarões de incêndio vindos de guerras Cantábricas

expelem

os amigos do bom momento

no cheiro das encostas

mel

salmoura de peixe e água nos enclaves

dilatam nossos laços em trocas

 

 

 

 

>>>>>V

 

penso em fragmentos das tempestades

com títuli picti nos lábios estampados

 

entre

 

os perigos de antigas ilhas

ao sul do Mediterrâneo e o norte Atlântico

peças béticas alteram reinados

mudança de Era

por pendentes lábios

 

de repente

sem esperar

 

 

 

somos soprados pelo vento

olhamos para trás ao meio dia da vida

e todo rio é um sopro de ar apanhado das origens

 

sobre um tapete verde em raro brinde

ar viciado harmoniza nossas idéias

num jardim de ânforas do ontem

 

frente a frente

 

corpos se tocam nas zonas úmidas

sob estampas  rotatórias de um novo horizonte

 

 

*

 

Célia Abila, nascida em 11 de Março de 1958 no Estado de São Paulo, é poeta; formada em pedagogia  pela  Faculdade Campos Salles . Participou da miniantologia comemorativa dos 30 anos do Centro Cultural São Paulo. É membro atuante dos eventos culturais da Associação Cultural  Poemas à Flor da Pele, e tem poemas publicados em sites e revistas eletrônicas.

*

 

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