Colina
acima
os pinheiros puseram em sentinela
seu exército de boddhisattvas.
A neblina caindo,
primeiro apaga a floresta,
depois a imagem no lago.
Um pássaro persistente
fez seu ninho no meio
da urze, e canta.
- nada vai tirar você de dentro de mim.
* * *
Um par de sobrancelhas
voa sobre o assalto aos sentidos
vindo da sua voz. Nua,
pelos quatro continentes da sala
desinvestindo a fala de seu primeiro objetivo,
passeia - esgarçando os vãos
entre signo e som,
entre o dedo e a lua.
Na extensão de possíveis que se abrem
junto com o seu rosto
vejo os efeitos dessa voz:
devastada a antiga paisagem,
faz o sol se por, o sol nascer de novo
sob o vôo escuro de dois pássaros.
* * *
para Dzongzsar Khyentse
Rinpoche
Como o ímã atrai a limalha
e as árvores desmoronam folhas
numa suspensão de luz,
quando ele fala
o ar se despetala por cima das nossas cabeças
em flores inversas, subterrâneas.
Idéias não se opõem,
nem negociam
- rodam enlaçadas
na paisagem que se expande,
desfia,
sem nunca chegar à convulsão do fim.
Assim é que o silêncio ocupa sua fala:
avança em rolos de fumaça
sobre toda recusa a se deixar conhecer.