DAND M.
PORCELANA DE OSSOS
feitos de espanto poezia e vidro
no côncavo da tarde a cigarra vibra
disseca a paisagem o homem jovem
belos - ambos explodem
movem-se astros
um ser solitário não irrompe
não migra
não percebe o movimento dos astros
a beleza costurada nas coisas
conduz sua vida no sentido da noite
hora não blasfema
na montanha da lembrança
se quebram porcelanas de ossos
pulsa uma figura de mulher
o fedor urbano exala seu perfume
há em seu corpo um rio que corre para o mal
A PEDRA
o miserável adormecido nos braços da estátua
4 leões lambendo a madrugada
dilata-me as narinas o mal cheiro da Pedra
a baía fustiga barcos com a língua
me açoitam impulsos noturnos
aparto-me da alvorada
dobro o pescoço
abro asas negras devassas
do alto avisto o mercado a igreja a praça
puro pássaro – pouso a teu lado
cravo garras na poezia e seu cadáver
revolvo toda a carniça
perverso
daquelas entranhas extraio
verso
verso
verso
até ficar saciado
AD INFINITUM
oh Oriente profundo
não é tempo bom atravessar certos caminhos
teus olhos me fitam
os meus te sauditam
cânticos ecoam
alguém segura a cabeça de teu filho com a mão
Deus e o Diabo oram demoram
no escuro fosforece o sangue dos altares em escombros
me diz
: fará ressuscitarem os mortos
fortalecerem os vivos ou
nascerem ramos de flor
na porta das mulheres da Cachemira
a poezia?
*
Dand M.(Belém), publicou o livro Flores da Campina – poezia (2002) e Branco ou 33 Poemas Diluídos (2006). |