TERROR SAGRADO SOB O SOL DO MEIO-DIA
1.
draga-me
o dragão
às grades
dos dias
agrilhoa-me
os braços
de rugas
e algodão
nenhum
grito
nenhum
sismo
só
a so
ga gór
dia à glo
te.
2.
asfixia
p(r)esa
ao peito
a
(l)
í(ngu)
gne(a)
a
do dra
gão(!)
como
(se)
insígnea
o
sol.
3.
o corpo à
forca do asfalto
catafalc’
o corp’
abort’o
(o) sol
bolor
bolor
abrolho so
bre a pele s
ob agulhas
de abelha
prenhe
o dragão
engole-me
a cidade:
.
4.
é como se
engrenagem
a carne gangrena
de cães aço
a apodrecer
rodovias en
cru
zilhadas escamas
o dragão
a sem sangue
se alimentasse de mim.
5.
abjeto
como
vísceras do dragão
&
intestino de
asfalto
:
corpautofagia
quando o
sol
se acid
entre
abscessos
6.
o dragão sombrou
m e as (m) as
para
o inferno
e caí como o corpo morto cai*.
7.
infern
o
s berb
o
s u
o
ss
o
& medul
o
pOrOs
o
o
med
DA SÉRIE PERFIS
1.
O cigarro entre os dedos faz cair
cinzas sobre o prato
alumínio e flexível do almoço do dia.
Mas a fome não dejeta
o desejo do vício.
Ao contrário, ela despeja
uma tensão nos intestinos
do faminto que agora come
com as mãos sujas
de um trago pra lugar nenhum.
2.
A intenção do tiro
lhe passar as têmporas
adoça o tempo que lhe resta.
Sabe ser a vida
o segundo de silêncio
antes da estopa da roupa
ensaguentar-se.
Como um Werther, o vinho
entornado sobre a mesa,
risca o dedo para sonar a vida
e o doce rumor do nada.
3.
Espera ao pé do lixo
a vez de ser chamado.
Segura a ficha entre os dedos
polegar e indicador
de traços magros, pele
ressecada e rugosa como
figo seco e estragado.
À frente há o espelho
das janelas contra o
rosto de horto e pétalas
em pedaços de calcário.
Mas está em desconforto,
e não percebe o reflexo
do ramalhete de corvos.
Sua vez, no entanto,
não será agora. Antes
dele, aquela Senhora.
DA SÉRIE NUTRIÇÃO DA PELE
1. Amors es perduda
quero
do Amor
diamante qual
dinami
te nitri
dos as
má
ticos
ânsia onça
de roubá-la robusta
antes
de tuas car
nes
o belo molde
par
tir,
and being
bent and wrin
kled,
que ao
tem
po res
te o des
ate.
2. Mudragada
pó sobre maráguas sob arcada
biombo de estrelas serpentes e cambraias
o chão e o campo
tudo escuro depois da praia
até o satelight pálpebras sobre o olho
onde só se vê a pouca lúgrima
o pó cobre
tua presença derramando
como óleo
quente
já à hora de ir embora
3.
A porta entreaberta
entrevejo
sob um quarto de luz
sobre a cama
a silhueta
que teu vestido
deixou à vista.
O braço branco
por sobre a cabeça
se insinua o sono
de teus cabelos
à sombra do criado mudo.
Salivo cada sílaba
no bobo beijo
que o ar me leva.
DA SÉRIE NINGUAGEM
1. O Poetário
o candeeiro que
brado iluminar a pouco aos proletários
mina
a figura – escura –
quase meio foto espelho fosco des
n u d o
u n o entre correntes
em meio velar a negro centro ébano
escreve
das palavras o poetário.
2. Peça
Um pirralho maltrapilho
pilhava na rua um disco
de vinil; na capa, escrito:
4’33’’ for piano
e o silêncio perdeu o risco.
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