ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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DANIELA OSVALD RAMOS

 

 

 

 

 

LOVE IS ALL

 

 

La mala suerte

"Deve ser bom isso". É bom isso.

A Kombi branca ao meu lado com o caixão exposto.
No rádio toca reggae, Are We a Warrior, hino de São Luís,

os sinais abrem,
os sentidos abrem,
sai um pouco do verniz.

Estaciono.

 

 

 

EL DÍA EM QUE ME QUIERAS

(COM ISENÇÃO)

 

C´est possible, ne c´est pas?

Um túmulo aberto, aquela

carta do Tarô, a hora que eles

levantam e não assombram mais.

 

Claridade, clima ameno,

flores fleurs roses amazing red roses no cemitério,

quando você ressuscitar.



Você é uma boa companhia

entre laranjas de outono.

 

As Mercenárias no palco,

se vendendo para a cena,

mulheres quando manipulam

não sabem, "lúdico

objeto do desejo".

 

 

SATISFY MY SOUL

 

Amanhã te conto o que não aconteceu:

ópio & civilização,

fruição.

 

uma esperança vaga que encontro

todo dia

de canto em canto,

outro canto,

possibilidade,

debaixo da cartola: alegria.

 

 


Tarde:
sonhei que não conseguia acordar, meus olhos não abriam. Eu estava numa banheira com você, que não me deixava ir embora. Perdi a hora. E mesmo assim eu não ia, tentava entender como há tempos parecia que "só na despedida", e me abaixava entre as suas pernas.

 


LOVE IS ALL

 

você coleciona imagens

como borboletas

quero guardar, mas o que fica

esvai?

 

"aqui de dentro, tomando medidas preventivas",

 

escrevendo, guardando, como se estivesse

ao fundo, tremendo.

 

 

BUENA ONDA

 

outra pessoa estará aqui

vou mudar para o quarto ao lado

 

menor, mas silencioso.

 

o coloquial não é banal

ela só diz ambigüidades

fico tentando encontrar a

 

estação terminal

dos sentidos.

 

a simetria só é possível por

observação atenta

 

difícil exercício pensar

em uma estrutura que se repete

 

não sem ser isenta

de modificações
cenas que se embaralham
imagens que não têm lugar

 

 

REVOLVENDO

 

Se a felicidade se chama "meios de transporte",

a mão cheirando a chocolate

entre espaços de embate,

então a mesinha ainda aberta

a lua na janela

a descida em descoberto

luzes nas asas,

atravessando nuvens.

 

{pousa a mão na minha mão, pedindo}

 

 

VÔO 1937

 

No banco de trás

provas de química

orgânica como a lua

cheia na janela, passageira 15A.

 

O plano piloto ficou no destino de origem.

Toda palavra sentida, suspensão em pleno ar.

 

De repente entendo várias como:

"queria me parecer com ele",

mas no entanto era diverso, versado em saídas e partidas. É diferente de
escrever em táxis. Se vê a paisagem.

 

 

APOSTAVA

 

uma ficha de cada vez. Assim como no bar. The kid is not my son.

 

 

JU T'AIME

MOI NON PLUS

 

a festa rola no salão

enquanto eu no notepad noturno de last days

seria chopin se não fosse gainsbourg

 

- o disco original muito discutido,

não esta farsa digital -0D

não esta farsa digital -

 

 

BALADA SENTIMENTAL

 

Meu controle remoto

quebrou

enquanto a noite

luz

som

o celular também,

sem bateria, matéria prima,

e então eu ia dizendo para a mulher do bar:

"não sei, não lembro, perdi o bilhete, ninguém entregou o ouro, ficou assim".

 

Agora há pouco eu ganhei uma carona do acaso e foi muito bom pois
começava a sentir o cansaço do dia anterior, quando tudo caía no chão.

 

 

26/04/2006

22:06 Nova pasta

C:\DIR C:\Meus documentos ilegíveis

13 pasta(s) 0 bytes disponíveis

 

(o programador está cansado)

o disco está quase cheio

não há mais espaço para salvar arquivos

kernel, núcleo, cerne, uma interface para utilizar os recursos do sistema monolítico.


- Escreva uma rotina para o meu periférico.

 

- "I´m sorry baby, but I don´t, I almost know you".

 

 

Não amor

I want move move move

I want some food (too)

"fiquei sabendo melhor como era"

 

Café:
2,00

1,80

1,60

1,20 (o mais barato que já encontrei, mas não depende nada do preço)

continuo parando em balcões pensando

como seria se, esperando o café esfriar -

não desce o quente, a não ser o amargo.

 

 

 

entre minhas pernas

uma mulher imaginária

que entre goles de café

imagina como seria

se -

 

 

*

 

Daniela Osvald Ramos nasceu em Alegrete (RS) em 1973. Mora em São Paulo desde 1997. É jornalista e professora de novas tecnologias da comunicação. Escreve no blog Caderno V e traduz poemas de Henri Michaux.

*

 

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