ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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DÉBORA FERNANDES TAVARES

 

 

 

 


ÂMAGO

 

Render-se à simplicidade das horas.

Apanhar um punhado de areia,

ampulheta viva, esvaindo sais e pedras.

Diluir o gozo da posse

para que restem

as curvas das mão.

 

 

CERRADA

 

Quero

 

o murmúrio do ouvido na água

 

o estado de minério

a quietude da rocha

 

o mergulho da retina no escuro

a densidade da mata

 

a fundura de um leito de rio

para uma raiz alimentada

 

 

e então a voz.

 

 

***

 

A nuca à mostra,

corto fios e cordões.

Eu me retalho.

O pescoço à forca

é a única forma de brotar.

 

 

POLVO

 

Liberta tua tinta nanquim

Esfumaça a água

Acende uma coragem qualquer

Alivia teu corpo

Protege-te dele

 

 

LONG, LONG PLAY

 

Billy Holiday no vinil,
livros usados e
eu
neste teatro.
Hoje não quero palco.

Avisto olhares cegos.
Rodo invisível e escuro.
Roda escuro e lento o long play.

A paciência da agulha,
o risco,
o pó.
As faixas definidas.
O tempo de atravessar.

Um Rolling Stones agora
I´m "waiting on a friend".

 

 

 

*

 

 

Débora Tavares é paulistana e tem poemas postados em sites e revistas literárias como Máquina do Mundo e A Cigarra, entre outros. Participou da 3ª. edição do jornal de literatura contemporânea O Casulo e da 2ª. edição da revista literária Puçanga.

*

 

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