ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

DIEGO VINHAS


 

PRÉVIA CANÇÃO DESCARNADA

rosto lido por mãos

, sob camadas
a tessitura do osso
percorrida

____________ por falanges também ossos

eu -
: a própria face no tato :
canyon às costas do olho, fissuras -
arquitetura
irrespondida

- apenas, por mãos
visitar a
caveira -

( pré-escavação ( do zero
( moldado em cálcio
( após muitas ( bocas
( subterrâneas

al dente - à vista do Anjo Augusto:

anéis invertebrados
tecendo-me
xilogravura


BESTIÁRIO

os cães
da minha rua
renunciaram
milícias

não guardam

não
beliscam mais
a madrugada
com ruídos
revirados


SESSÃO DA TARDE

ela
rompendo o pão
sem perícia

dedos,

tímido
batuque

à mesa -
17:30, rádio, pilha

pudesse
pequeneza
dizer,

ambos
lábios -

calar-se
ilha


PARTITURA

................a palavra ave
................voa no papel

................Horácio Dídimo


escrevo um pássaro


inerte e à espreita, ainda cárcere sob
o lápis (ave sem arremesso) - até que
súbito, o ímpeto vertical: traçada, in-
cha a figura, a despregar letras e nexo
(enquanto a página (pianíssima) aceita


o recém-ruído:

perpectiva de asa
(ex-idéia)
ascende


- ruflar alheio
e
intransitivo

...

fátuo
sempre
risco

 

*


Diego Vinhas, poeta, nasceu em Fortaleza (CE), em 1980. Co-edita a revista de poesia Gazua e integra o grupo de intervenção urbana Rasura. É autor do livro de poemas Primeiro as Coisas Morrem (2004).

*

 

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