a dor pedia líquido à carne, mas seca, ela só pôde oferecer areia àquela que tinha sede.
salas informes contra a cabeça.
paredes que não (se) trans-
passa.
a ferida cede à fenda que a convida escuro a dentro
: cabeça contra o infinito
Aqui
gotas de soro –
tempo fraturado à porta de vidro
: transparência
em meus olhos
(como se a qualquer momento alguém (me) tirasse o torpor do coma-ausente)
à cada
vento
sombra
sons o
não
deixa-me paralítico
ainda.
aqui.
Enigma
testemunhei teu nome no ocaso,
na certeza de mil sóis poentes.
no fogo dentro,
teu rosto era uma aparição infinita
– nascente de enigmas,
fagulhas escorrem de tua boca
o segredo de tua vinda
olhar um rosto é lentamente – difícil terror na noite dentro.
: árvore abatida machucando
o coração da terra. lembrança da neblina deformada,
límpida fusão no quando
olho o. rosto de. vagar
olhar.
lento.
g o z o s a m e n t e
(como quem morre nas mãos de um deus de éter)
olhar o rosto lentamente. uma única vez.
(sem voltar sequer a face para o poema que se esvai,
quando a segunda)
: olhar um rosto é dizer nunca mais
deitar fora o nome,
desvestir-se de bio-
grafias.
: apenas o rosto
evoquemo-lo no ruído animal,
onde nos morre o desejo dessa
terra estanque.
Canto de Orfeu
sem saber se o que fazia era retorno ou partida
isso de te guardar em mim tem
nome impronunciável, inaudito
– iminência de nuncas.
não tem nome – retorno, partida
( É estancado no corpo, o que fica)
esse isso impregnado dentro,
essa outra carne,
esse viço
se crescendo ausente
: é nome que não se pronuncia
pernas bêbadas que te seguem
seu corpo longe par-
tido na garganta
“Visione del silenzio
Angolo vuoto”
desejo.
todos os rostos teus. e não: distante sê-lo
tua presença ausente
o outono nasce uma rosa de fogo com rostos revirados em costas ancestrais
olho estrangeiro – morno – dentro de umbigos inversos
danças guardadas
no segredo de a- braços retorcidos em distâncias petrificadas
olhar umedecido procurando-me à nuca órfica
(eu, olhar estancado, colecionando nuncas)
Os fogos
minha voz grita
a distância que seus cabelos
cantam fogos ateados.
o grito bate nos cabelos,
voz de fogo ardendo púrpura em sua
boca que guarda esse meu grito oco.
longe.
o desespero queima as idades,
meu grito estancado no vento
onde seus cabelos deitam
carícias que minha voz guarda silêncios.
– seus cabelos de rosáceas mudas.
grito o desespero oblíquo de não tocar-me
os seus cabelos que não
me batem luzes líquidas
a sua boca que guarda
em mim o seu silêncio
– grito que seus cabelos em minha boca
sepulta
o que de ti me calo
Sete micro-cantos ou Bilhetes para auto-exílio
I
marechal – centro. vias de pelica
onde nossos pés acreditavam o poema.
nos mentia o lugar
que se falsava acontecimento
II
(era placenta seca o que pisávamos)
III
ruas fendidas, sondadas no enigma
que se nos desfaziam
– habitávamos em silêncio
no que hoje nos tecemos juntos
IV
renda expurgada de seu líquido,
sêmen oco que nos desalojava
gota-a-gota
V
(em você foi primeira a coragem de existir
para fora desse centro estéril, onde
– EM VERDADE –
o poema era acontecimento em nós)
VI
somos abortos, bia, desse ventre árido:
praças de areia, luzes diáfanas,
escombros de casa – que desabitamos. existimos
VII
num lugar espaço
aberto entre
o abraço e o infinito |