quero falar uma língua
nova
principiada na carta do teu
corpo
sem escrita lúcida nem
modos genitivos
quero uma língua
já gasta
gentilizada
versada em todos os
paganismos sórdidos e
elegantes
imagino-a já enciclopédica
ruminante e
devoradora de esperas
língua sem contenção
musa de labirintos
* * *
uma
deliciosa coincidência
de bichos
ocorre quando o meu
corpo esbarra nos cantos
da tua casa
e mancha-se de negro
descubro que max ernst
tinha as mesmas fixações:
falsos animais e o arizona
uma deliciosa lembrança
pinta o teu
hálito de água e limão
e a tua mão no meu joelho
cobre toda a mudez e as
minhas melhores tenções
* * *
o chá na tua boca
é o limite das
dilatadas terras
por onde ando
romaria de todos os
sabores distantes
bálsamo escolhido
na forma de beijo
a água do teu chá
tem cálamo ou talvez
canela
degraus sempre inferiores
ao teu modo de digestão
ô meu baudelaire
nasceste sensual e
exato
um perfeito acidente líquido
como aquele que o eugénio
viu em jerez de la frontera
será o chá
o limite?