Da
série Serpes
Da indi in qua mi fuor
le serpi amiche
(serpes me foram desde então amigas)
Dante. Inferno: Canto
XXV
LÉGUAS DEL LENGUAS
a língua foi crescendo: os lábios desencontraram-se
num rasgão. ela foi ganhando corpo sanfonada
carnadura ofídia. os poros escamas. a boca aberta em
círculo, se desenrolando num pergaminho pulsante. no
chão: a queda. calçada abaixo serpenteando.
sem desvio: atropelos, lambe-pés, oblonga sola assolando
comida, palavra - ganhou as ruas, amassou os carros. lambeu
semáforos vermelhos: léguas de língua
na cidade, lambidelas em coberturas. para trás, rastros
de peçonha como cobrança de posse. preso a ela,
ia um corpo, do linguarudo engasgado, o seu antigo dono.
CONFIDENTE DESINTERESSADO
carrega túmulos
- imperceptíveis -
naquele riso covinha
sussurros de rápida
passagem rasteira
ruidam
quantos relógios te
calam a boca:
partem a língua
calam o bote
embaralha: silêncio
e rumor
no regresso do jogo, a negação:
peçonha
- silencia -
- faz-te encosto -
paralisa as presas ocas,
rejeita as confidências:
sintetiza-te serpente
ENTRADAS GRATUITAS
NO MINHOCÃO
quanta gente não
digerida:
aguarda no fogo
gosto findável.
os riscos vermelhos -
amarelos
é uma leitura,
das cobras que circulam
nos ares
mostrando pátinas
em cobres úmidos
- de sinalizações
mudas
em funcionalidade lápide -
os carros correm mais
que a velocidade
permitida: o medo deixa lindos rastros
luzentes, riscos.
no breu gentileza se quer
da duração
das chamas.