ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - home ]

 

 

EDUARDO JORGE

 

Da série Serpes

Da indi in qua mi fuor le serpi amiche
(serpes me foram desde então amigas)

Dante. Inferno: Canto XXV


LÉGUAS DEL LENGUAS


a língua foi crescendo: os lábios desencontraram-se num rasgão. ela foi ganhando corpo – sanfonada carnadura ofídia. os poros escamas. a boca aberta em círculo, se desenrolando num pergaminho pulsante. no chão: a queda. calçada abaixo serpenteando. sem desvio: atropelos, lambe-pés, oblonga sola assolando comida, palavra - ganhou as ruas, amassou os carros. lambeu semáforos vermelhos: léguas de língua na cidade, lambidelas em coberturas. para trás, rastros de peçonha como cobrança de posse. preso a ela, ia um corpo, do linguarudo engasgado, o seu antigo dono.


CONFIDENTE DESINTERESSADO


carrega túmulos
- imperceptíveis -
naquele riso covinha

sussurros de rápida
passagem rasteira

ruidam


quantos relógios te
calam a boca:

partem a língua
calam o bote

embaralha: silêncio e rumor
no regresso do jogo, a negação:

peçonha

- silencia -
- faz-te encosto -


paralisa as presas ocas,
rejeita as confidências:

sintetiza-te serpente

 

ENTRADAS GRATUITAS NO MINHOCÃO

quanta gente não digerida:
aguarda no fogo
gosto findável.

os riscos vermelhos -
amarelos

é uma leitura,

das cobras que circulam nos ares
mostrando pátinas
em cobres úmidos

- de sinalizações mudas
em funcionalidade lápide -

os carros correm mais que a velocidade
permitida: o medo deixa lindos rastros
luzentes, riscos.

no breu gentileza se quer da duração
das chamas.


*


Eduardo Oliveira nasceu em Fortaleza (CE) e edita a revista Gazua.

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2005 ]