O SILÊNCIO COMO CONTORNO DA MÃO
Ao silêncio o vasto e lento não
o contorno como solução da mão
o silêncio como contorno da mão
o verso, fronteira, o nunca
senão contorno
o vazio, não.
o silêncio como contorno da mão.
* * *
As horas quedaram-se mortas,
inconseqüentes visões de dia.
Vieram em fila.
Comerem-me, parecia-me.
Se falo agora
é que pela sombra me escondia.
* * *
Deus não é uma pessoa. Deus é a folha.
* * *
Ainda não encontrei nada que fosse mais pedra que a própria pedra
* * *
AOS OLHOS CEGOS DA CORUJA
Os olhos cegos da coruja
carregam-me em sua sombra.
Nunca tive uma ave coruja
...talvez por isso me siga.
Tive cães, gatos, outros pássaros e flores,
nunca a coruja cega.
E ainda assim dói em mim a falta de luz,
este cuco sem relógio,
meu galo sem manhã.
A coruja, meu lado cego
de onde penso,
a total falta de espelho
que me olha.
COPACABANA DE MANHÃ
Copacabana de manhã,
lugar dos perdidos
cegos e suas latas, chocalhos
de mulheres e homens de olhares
cegos há muito
de outros olhos
outros não risos.
Copacabana de manha
é lugar dos que não tem paz
* * *
A cor que se pensa cor
não é tão cor
quando se pensa dentro
DOS MORTOS
Certos enterros são concertos:
o morto vai distante,
em forma intangível em nós se
encerra.
No concreto que o coveiro
sobre a morte acerta,
vamo-nos um pouco
em nossas pétalas.
AD VITAM AETERNAM
No espaço esqueço
que sou no tempo.
Num intervalo tento
alcançar a margem,
a sem limites.
Reescrevo-me
para saber-me
fora de alcance.
LÁPIDE
Tenho olhos que me cegam,
mãos que me pregam,
roupas sufocantes,
dedos que não tocam,
amigos que não vejo,
paixões que a alma não comporta.
Quem dera ser firme a porta... |