ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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ÉRICA ZÍNGANO

noite, dias brancos  érica zíngano
ilustrações  simone barreto
 

 

1.

quantas nas vezes - muitas,
um por sobre um,

mesmo que, sem precisar um borro, uma nódoa,

ser entre quem quer que seja,
sem nunca saber se o limite de um fim - à
exaustão.

                                                     - mas o que pode ser
senão isto?

(cada um um deserto).

 
2.
em violência branca, depois
(as facas, ¾ em água.)
chamava por faca, esse osso que me corta em diagonal,
as cristas:  ilíacas.
- delas, tinha apenas, depois, da possibilidade de quaisquer 
                                            uma lembrança. 
(aprendemos que o nome disso é dor.)
 
 
3.
(lá fora, no despontando de alguma manhã, 
o seu céu em  furta-cores.)
4.
 imaginar a linha invisível que fazia do nosso contorno contorno,
talvez sirva para delimitar a nossa menor distância.
5.
com a naturalidade de uma constatação:
(alguma atenção redobra-se)
não pude evitar, como quem diz - não tenho culpa,
aprendi a desequilibrar-me na linha que faz de nós, cada um, um.

 

6.

no olhar,  uma outra paisagem:
talvez seja branco o rio do esquecimento.

7.

(não mais estar em insônia, que, em outra língua,
se diz em branco,
mesmo sendo em claro, à noite.)


 

*

 

Érica Zíngano, poeta cearense, publicou poemas em plaquete editada pelo centro cultural Dragão do Mar. Atualmente, faz mestrado em Letras na Universidade de São Paulo.

*

 

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