ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

FLÁVIO CASTRO

 

 

 

 

GÊNESE

 

Enfermo ventre grávido padece praça bizarra

Parábolos brinquedos enlouquecidos

Pérfidos perfis perfilados

Rostos gêmeos

Passos possessos

Caos silencioso vazio

Tórridos relâmpagos calados

Oeste escarlate de nuvens arquitetas

Desfecho longínquo retorce poetas distintos

 

 

 

ANJO TORPE

 

Silêncio envermelha crepúsculo sangrento

Sopro turbilhona convulsivamente

Sólida solidão dos muros

Lamentos feéricos

Distúrbios poéticos regressivos

Paralisia profética do sentido prático

Criatura inválida tece evasão imaginária

 

 

 

BÁRBARO

 

Sol emplasta ôndulo horizonte

Asfixiadas árvores urbanas

Solitário vôo escarlate

Laminados agulhaços

Cíntilopolicromo

Róseo rosto belicoso

Sereníssimo céu cerúleo

Caústica sonoplastia solar

Cheira áfano porão

Aguços ouvidos tônicos

Ozônio gasfixia globocular

Luz navalha cárnea fisionomia

 

 

 

NOITE ÉBRIA

 

Quarto torto navegando noutra realidade

Imagens metafóricas dobrando madrugadas

Estrelas captadas nas crateras ópticas

Lembranças flutuando no balaústre

Aranhas alongadas no V do teto

Demônios anômalos inquietam o Nada

Sentado no abismo mastigo minha sombra

Sangue de cristo goteja do cálice trincado

Suicídio súbito nas rugas do semblante tenro

 

 

 

SOMBRA

 

Língua sábia lambe áspero cárcere fictício

Sonhos evaporam silêncio mortificado

Originais duma vitalidade dilatada

Arcaica simbologia redentora

Cega fonte culta

Suave azul obscuro

Tristes olhos extremos

Assombrosas cores vigorosas

Manuscritos carcomidos

Sublimes pilares paralelos

Sopro cuspido no êxtase bucal

Trépidos movimentos sincronizados

Fragmentos empíricos pelos vasos oníricos

 

 

 

SÍSIFO

 

Treva aglutina atrofiadas criaturas

Escorço escarradefeca mijadomuro

Sinistra textura nivelada

Concúbinos cubículos

Floralumínia

Ácidas frutopedras

Estrelárvore solitária

Célebres bosques arqueados

Amálgamalma

Câncro verbovícero

Sábiosátiro unicórleão

Oeste galocanta outraurora

Negra palma branca

Vândala nervura autônoma

Sangüíneafumeguenta chamazulada

Euterônimo versificando mesmo verso

 

 

 

CIMO

 

Aurora desopaca toscas roupagens

Claridade adentra quarto mofo

Oiro espesso sol platino

Víscera voz laminada

Demonianjo

Desrosto

Pérpetua nadêz

Lágrimas cerúleas

Andraja cortina bailarina

Tropel trôpego encurta curvas

Silvo atinge infinitivo infinito

 

 

 

EXPRINSSIONISMO

Pincel trágico concretiza símbolossonoros

Mensidão abisma réplicas retinas

Dilatos contornos escorridos

Branco branco alumiado

Quadradáculo

Poética siderurgia

Soro dos poros cardinais

Plexo perpetua vástidos grunhidos

Memória marmórea

Tacto abstrato geográfico

Chama lácrima das cores nervosas

Carranca escancara estrábicos florlábios

 

 

 

CÁRCERES

 

Plexo fecunda placenta oceânica

Focos feixes fluxos purpúreos

Perpétuas paredes cênicas

Térreo sorvo fúmego

Ferrorretorcidos

Ociosa luz varicosa

Azougue espelho braille

Gráficos becos estrangulados

Películo céu diminuto

Face sôfrega cérebro longe

Cilíndricas siglas labirínticas

Varzeanas nuvens controversas

 


 

PARDIEIRO


Escória fragmentada pela espátula pictórica

Fetiche destro dos quadros acidentados

Mutações paradisíacas

Caricata criatura

Saga da folha branca

Mentecapta mentalização

Resto poético do sol epiléptico

Mognos imóveis

Ponteiros poeirentos

Lembranças desvanecidas

Incêndio lírico da tímida lamparina

Gatos alquimiando no solo brando do assoalho

 

 

 

ASCESE

Gesto insano amplia espelho incendiado 

Sombra dançando na ausência

Quadrilátera perspectiva

Flagelo genealógico

Brilho fátuo

Vogal ponteaguda

Inaudíveis audições

Maligno suor abençoado

Alegorias do verbo alquímico

Dádiva maldita

Cérebro crucificado

Sintaxe fixa na gravidade

Maresia trágica das sensações

Chama tênue das velas incrédulas

Acústica solidão

Rastro do sol martirizado

Ardente consoantes versejadas

Ascensão alquímica do verbo adivinho

Pegadas místicas em caminhos fabulosos

 

 

 

ESPELHO

 

Embarcações submergem no crepúsculo esvoaçante

Verve enfática locomove telepática paisagem

Semblante reflete duplicidade espelhada

Caos fisionômicos

Noites resplandecentes

Reflexo da sombra luminosa

Palma espalma calma platibanda

Branca neutralidade

Fantásticas sensações ilusionistas

Intersecção de realidade antagônicas

Aspecto arquitetônico das rochas circunflexas

 

 

*

 

Flávio Castro nasceu em Porto Alegre (RS), em 1966. Tem seis livros de poesia, todos inéditos: Amálgamas, Inaudito, Braille, Imagideogramas, Formar e Galeria, além de um volume em prosa, Desmemoria. E-mail: castro_flavio@yahoo.com.br.

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