ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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GABRIEL KOLYNIAK

 

 

está encantado o músculo;
a horda chamada vida e lunática
com suas armas de sono,
prudente na chamado aos claros
lampejos do rumo vertical
tomado em cinza branca como
os olhos de pupilas movediças


* * *


neguei aos pés o sabor
da caminhada, alojei-me
nos dias de menores trilhas,
rememoro meu grito para
as marcas de pólen em
pedras fecundadas, abro
as frutas que guardei
quando na enchente os rudes
cantavam e as espécies
da faringe sobre os ovos
dos lagartos do urro.


* * *

emenda o passo a doce fera das noites
mal sabidas, inventa e nutre a voz
instável da cura pela faca;


meus jogos pela doçura, as invenções de anis.


é maciço para comportar a transparência nua;
é aberto para cerrar as portas da mediação.


contento dos vales, as ordens do talho.


nada há que sustente o passo
e recusamos o amparo do vento

caímos sem voz, e vimos


* * *

sobre a pele reinar o sal
sobre a distância gemer
a justiça dos rudes.


entre os arbustos guardamos
nossas mãos, e vimos


a chegada das núpcias,

as vertentes da entrega.

* * *


nas granulações
repousa minha volúvel escuridão

* * *


por suspeita e exaustão
saqueio as moradas


* * *

haverá testas batendo o chão
e mulheres deixadas nos catres


* * *


chove agora, contemplamos
nos dedos a justa medida
do avanço dos ventos


* * *

volverei a lugar algum
em estações de altares
nevarei sobre a vela
choverei sobre a dança;


* * *

com mãos de lua,
tomaria-o em meus
braços e dedos
de sal.

* * *

Severo é meu nome,
Severo e bendito de
prantos e lutos,
de lutos sobretudo,
eu, Severo e sereno
em meu chicote
manchado de pele,
eu, Severo,
que unicamente macero
as costas que carrego
atrás de meu peito
dourado e virulento,
casto e sacrificado
às costas que sustento
e macero, eu, sereno
Severo, homem de
costas maceradas.


* * *

mulher de olhos parados
e cambiante, mulher
de estátuas. seus nomes
e repousos. muda pela
pele e imensa sobre
a prata. curvada sobre
os pés de unhas geladas.

tornava o vento à encruzilhada,
de estátuas sobre a prata


* * *

a medida dos farelos é o asno

 

*


Gabriel Kolyniak é poeta, gaitista e pesquisador. Seus livros de poemas, Selado (2003-05), Lavrador em sombra (2004-05), Severo (2005) e Bruto (2005-06) permanecem inéditos. Mora em São Paulo, onde se dedica à poesia, ao ensino de música e à atividade de pesquisa em literatura. E-mail:
gakolyniak@uol.com.br.

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