ÍNDIA
olho zarabatana
equilíbrio de flecha
barbatana a cortar mares
no sóbrio céu de março
a carne me acerta
além de todos os azares
uma lucidez curare
CRISÁLIDA
tempo casulo
guarda em segredo
a asa palavra
pra voar borboletra.
SETE CÉUS
Hoje na mesma hora de um céu de outono
Respirando verdades diversas eles se encontraram
do mesmo lado da calçada de um outro amor
Ela disse;
"Você flutua, nunca te ouço chegar, talvez seja porque
você nunca foi embora"
Ele não disse nada.
Flutuava em torno dela.
DOIS PONTOS
: na pagina seguinte
(como se levitasse um segredo)
pequenas lantejoulas,
grandes janelas
: na pagina seguinte
(como se evitasse o presente)
equilibrava vagalumes
no som de flautas afogadas
roía o tempo
esse nunca entender o depois
(como foi sempre)
na pagina seguinte:
METONÍMIAS
Enfio a carapuça
fetiche ou feitiço?
improviso de cor
ação
provo por pro
vocação
como por con
sentimento
minto por des
ilusão
SUB WAYS
sublinho a palavra
tempo
ainda que não diga nada
é uma ênfase da tua falta
sublimo cada palavra
tempo
ainda que não passe nada.
DA METADE
disso que não tem nome
agora quando me falta
o ar,
você,
o sonho
eu aguardo a outra metade
enquanto isso
a cigarra canta
o cigarro apaga
o pensamento queima
enquanto isso é tudo
eu guardo a outra metade
SÉPIA
relembro a queda lenta
em quatro movimentos
na ponta dos dedos
posso ainda sentir o quase
equilibrando-se num precário futuro
glóbulos brancos em baixa
imunidade poética perdida
no erro de outra língua.
PAS DE DEUX
Fecho a porta e as janelas,
a casa se foi.
eu vou,
leve como quem já conhece o amor,
Nenhum pássaro sabe como é voar com os pés no chão,
eu sei.
*