GLAUCO
MATTOSO
MOTE MARTELADO
Bem melhor que foder diariamente
É escrever um poema a cada dia.
GLOSA AGALOPADA
O romano, que é prático e prudente,
Já falou: Nulla dies sine linea
E a missão do escritor assim define-a:
Bem melhor que foder diariamente.
Tem razão o latino, porque a gente
Nove meses demora pra dar cria.
Mais vantagem, portanto, percebia
No martelo e na glosa que na foda,
Pois o gozo, a quem nunca se acomoda,
É parir um poema a cada dia!
MOTE MOMENTOSO
Quem mandou pisar na
bosta?
Agora limpa a sujeira!
GLOSA
Quando alguém diz que não gosta
De política, mas vota
No ladrão, só borra a bota:
Quem mandou pisar na bosta?
Mal seu pé naquilo encosta,
Sente o que o governo cheira!
O eleitor erra a primeira,
Na segunda o voto nega:
Confiou na escolha cega,
Agora limpa a sujeira!
*
Glauco Mattoso,
poeta, tradutor e ensaísta, nasceu em São Paulo
(SP), em 1951. Publicou, entre outros títulos, os livros
de poesia Línguas na Papa (1982), Memórias
de um Pueteiro (1982), Centopéia - Sonetos Nojentos
& Quejandos (1999), Paulisséia Ilhada -
Sonetos Tópicos (1999), Geléia de Rococó
- Sonetos Barrocos (1999) e Panacéia - Sonetos
Colaterais (2000).
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