não basta o rio murmúrio
adocicado das águas
rumo certeiro transparência
do olho d’água
desaguar suave sua torrente
não adianta fonte pura
ou perpétuo devir dos rios
como se fosse foz
seu único destino
não basta o rio –
cruzar a vida como esquina
sem banzeiro que revire a via estreita
nem
sorrir pra cantilena ilusória do mar –
carece macaréu em barro & areia
arrancando as árvores revendo
o próprio rumo estrondo só
sal revoluto
o corpo inteiro em pororoca
* * *
embora nas pregas peças
da vida
um casulo crisálida se faça
em cio solitário
cercando-se de si
enquanto cresce
impune turvo
belo & gerante
– uma lira à guisa de arco
sem saber do sensabor diário –
embora cada casa
abrigue o próprio cerco
que nunca se anuncia
enquanto sempre está cumprindo
diminuída em parte
no peso intenso & úmido
da sua muralha
desgrenhada
na fúria gargalhada do mar
vida é vinho
rubrespumando em cada aurora
* *
está na cara
como a colher que entre as gengivas de um bebê se acolhe
sem alimentos sem função
senão seu brilho baço
e distorcível
raio no raio do olho que a devora no metal
enquanto espreita em seu
(sem)
sentido
o mistério
* * *
rever
é o cheiro da seca
no solo solto de chuva
– despétala a vi
olência flo
rindo sem nome –
entre cercas
do asfalto violáceo |