ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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guilherme gontijo flores

 

 

 

 

não basta o rio     murmúrio

adocicado das águas

rumo certeiro   transparência

do olho d’água

desaguar suave sua torrente

não adianta fonte pura

ou perpétuo devir dos rios

como se fosse foz

seu único destino

 

não basta o rio –

cruzar a vida como esquina

sem banzeiro que revire a via estreita

nem

sorrir pra cantilena ilusória do mar –

 

carece macaréu em barro & areia

arrancando as árvores revendo

o próprio rumo            estrondo só

sal revoluto

o corpo inteiro em pororoca

 

 

* * *

 

 

embora nas pregas peças

 

da vida

um casulo crisálida se faça

em cio solitário

cercando-se de si

  enquanto cresce

impune turvo

belo & gerante

– uma lira à guisa de arco

sem saber do sensabor diário –

 

   embora cada casa

abrigue o próprio cerco

que nunca se anuncia

enquanto sempre está cumprindo

   diminuída em parte

no peso intenso & úmido

da sua muralha

desgrenhada

 

na fúria gargalhada do mar

    vida é vinho

rubrespumando em cada aurora

 

 

* * 

 

 

está na cara

 

como a colher que entre as gengivas de um bebê se acolhe

sem alimentos sem função

senão seu brilho baço

            e distorcível

 

raio no raio do olho que a devora no metal

enquanto espreita em seu

            (sem)

                        sentido

 

                                    o mistério

 

 

* * *

 

 

rever

 

é o cheiro da seca

no solo solto de chuva

 

   – despétala a vi

               olência flo

    rindo sem nome –

       entre cercas

   do asfalto violáceo

*

 

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