ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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HILTON VALERIANO

 

 

 

 

O EQUÍVOCO

 

a José Arnaldo 

 

Tempo de dizer, que meias palavras não bastam.

Que o esforço resultou inútil.

 

Tempo de dizer, que o abraço não se fez cálido,

e sim amargo, hostil.

 

Tempo de dizer, que tampouco há esperança.

Vivemos e não somos recompensados.

 

O desamparo consome a relutância

daqueles que persistem.

 

Os dias perduram no pó de contradições.

Juntas elas formam o equívoco da vida.

 

 

 

A JUSTA MEDIDA

 

Seria preciso muito mais do que um simples

aperto de mão ou mesmo um sorriso esquivo

entre estranhos que se cruzam repentinamente.

 

Seria preciso muito mais do que meros sentimentos

ocasionados por meras palavras proferidas

em circunstâncias adversas ou propícias.

 

Seria preciso muito mais do que a resignação pelo não dito,

pelo não correspondido apelo de muitos,

pelo pouco que ainda resta (não  o suficiente para engendrar

o esquecimento) do  convívio exaurido,

 

                                   da esperança segregada.

 

Outrora sonhaste o impossível em meio aos limites do cotidiano.

Prata que reluz sobre cinzas de recordações?

 

Seria preciso a recusa da farsa diária,

subjacente em cada solidão comungada,

em cada mentira partilhada.

 

Seria preciso o questionamento permanente das razões vigentes.

 

Seria preciso saber amar e esquecer

 

                                              e às vezes odiar

a justa medida

                       

                                   de cada acontecimento.

 

 

 

DESTERRO

 

Quando olhava pela janela não via nada.

Nem mesmo a janela por onde olhava.

 

 

 

A LUZ       

 

Não absorve o tempo

as mãos de quem

ao sol trabalha

a luz dos homens.

 

 

Esperança, resignação.

 

 

 

ENCONTRO

 

Mãos que se tocam

entre gestos

                 carícias

e saudações

 

olhares plenos

                 repletos

em um abraço

                   silente

fraterno.

 

 

 

CONVÍVIO

 

            Gotas repentinas
                    anunciam a chuva

alegram o convívio 

     entre passos

                        rápidos

risos e frases

                   interruptas

pessoas atravessam

                 a rua

 

 

 

O HOMEM

 

Uma xícara

de café

e os dedos

entrelaçados

sobre a mesa

a garçonete sorri

austero o homem

agradece

 

 

 

O CASAL

 

            No outro lado da rua

            mãos dadas

palavras íntimas

não confidenciais

o casal aguarda

para atravessar

 

 

 

OLHAR

 

Olhou

minuciosamente

as moedas

sobre a mão direita

depois correu

entusiasmado

entre os pedestres

que atravessavam

a avenida

 

 

 

NATUREZA

 

As formigas

 

rapidamente

aparecem

 

roem o inseto

morto

 

     esmagado

 

pela fúria

      congênita

 

da natureza

*

 

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