ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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IAN LUCENA

 

 

 

 

às faces da dialética:

 

este sou eu

flertei com o espelho

quero a alma da tua escrita

cantou o raio de luz refletido

inerte é o meu

desejo de te encontrar

identidade minha

do ser ou parecer

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hai-cai da libertação

semi-cerro pálpebras

minhas para o sol queimar

um pouco da vida

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sem título

de todo o escuro

sinto des-mundo

imundo preto

desnudo e mudo:

 

ócio fecundo

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nudez

 

minha história fica lá fora diz o pensamento

na rua avenida praça maresia ou qualquer outra

estória

deste mundo

 

venho vestir

toda falsa cognata de intento

e dos puros desígnios humanos

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diálogo

 

tua catarse

é íntima, vem das rosas

que seguras na ínfima

esperança

 

de reter todas as luzes

feito indiscreto de todos os sóis

 


 

canção a uma cabana

jamais virá a chuva caiu tamborilando

a madeira e as pessoas perguntaram

que de aqui pra lá não obstante

a toda essa natureza

e cai

cai cipó e bate

bate cipó e vai

as pessoas perguntaram das

obras humanas

 

cravaram às paredes os raios em si

sibilavam

e os animais

também perguntaram

para que limitar a consonância

mas as pessoas também se juntaram

a esses humanos todos e saíram por aí

montante

cuidado me disseram

as pegadas estão nas nuvens chuva casais

dos conselhos de amor

 

seca a terra vai embora zela e corre

jusante

é muito egocêntrico

as pessoas concordaram

vamos para o lado oposto e dissonante

ínfimo

todo esse caminho irmão

paz aqui e ali e em todos nós parem

falaram as árvores

vamos aprender com a luz

todos voltaram
_________________________________

 

sem título

 

li num mar

qualquer

feito água

que você era folha

alumiada

 

eu

imagina

amálgama


 

vida

 

morre uma flor e

nasce um poeta

morre um amor e nascem

dívidas eternas

vive um humano

de tudo inumano

grafitado em voz alta

manifesto lascivo

de um vívido engano

_________________________________

 

sem título

 

abro a porta:

 

(certifico que o mundo afora é louco)

 

não são essas as diretrizes

do bem da tradição ou do sigilo

é essa cor política que carregas

nos olhos que

te leva embora

 

batem as portas do hospício

naquilo que contradigo invento

ou repito

 

no fim, entendo

que foi, não foi, foi mesmo

o vento

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cigarros

 

quando sozinho

enegreço

minha alma desaparece

 

e como se nunca

fosse deixar de

estar solitário

 

fico sozinho de novo


sem título

 

acordo com pombas

toda vez que quero

 

acordo com o que quero

toda vez que pombas

invadem meus pensamentos

lá ficam me

ensinando o que podem

 

não sou estúpido

quando muito

aprendo sempre

resoluto

 

não desisto sempre corro

nado

nada insensato

correr atrás

_________________________________

 

poema-escarro

 

dentro de mim calada

palavra-tiro

esperando o poeta fingir

puxar o gatilho

 

: corre solta

a cento e quarenta versos por hora

encana o vocábulo

destrói vidraças

intimida

e arrebenta

 

quando menos espero

pólvora

sou refém destro

deste poema-escarro

enfio na culatra

toda e qualquer alma


 

AOS DOMINANTES

 

TEMOS      GRANDES     DESAFIOS

ALGUNS  TROCADOS NA  CARTEIRA

UMAS   LEMBRANÇAS   NA   CABEÇA

A    SOCIEDADE    NAS    COSTAS

NOSSAS    TORNANDO    A    VIDA

UMA   ALGIBEIRA  DE  REFLEXÕES

_________________________________

 

sem título

 

poeira fina nas mãos

escapa-me entre o vento

dos meus dedos vidros

 

unge falanges minhas

- petroleum –

 

engulo seco de novo

mau hálito. cirrose

 

minutos

introspectivos o chão       .

_________________________________

 

POEMÊXTASE
                        MINHA CABEÇA

É PROLE ÓTARIA

                        PUTRE FELADA

                        POR MULHERES INDIGESTAS

_________________________________

 

sem título

 

VERDADE TOR

                         CI

                DA

 

BEM ENXUGADA É MENTIRA

solidão casada

 

as transmissões

são pêndulos neuros

 

de

im

pul

sos

 

em rebentação das fibras

 

car

a

cas

 

não ouço mais conselhos

agora só escuto

meus

ecos

surdos

_________________________________

 

multipolaridade

 

meus

caracteres

estampados em mágoas passadas:

 

essa estória

de termos identidade

(ainda) vai ser provada

 

ninguém negará

o nanquim

dos meus traços

_________________________________

 

amor em notas

 

quando escrevo

sobre amor

confesso aos papéis

 

dou preço

repasso

inválido

reais valores


 

amoródio

 

reação ametábola

oxímora

de intensidade

cada

vez

mais

fraca

_________________________________

 

lirismo

 

infelicidade

 

outona ternura

alqueiva versos-loucura

em covas de onirismos incautos

_________________________________

 

psicobiografia

 

admito em furtos

(desses roubos enviesados)

que a relação

é intratextual

 

de tecitura coturna

lúgubre amante

da minha prosa

soturna sussurra

 

.

.

.

 

uns casos

são cópias do meu ocaso

intertextual


 

expresso

 

expansão maometana

 

para o mundo

 

qahwa

em palavras que

acabam em geadas

e o processo

 

estimula

outra xícara

_________________________________

 

séquito

 

não caminho com putas

fujo

 

sem pintar

facetas

sociais

_________________________________

 

sem título

 

vou di

reta

ao

ponto

 

diz-me a poesia

 

sem crises

estou cansado de reprises

_________________________________

 

poema-identidade

 

meus esc

ritos

são intrín

secos


 

poemoglobinas

 

à bancarrota

de tiros férricos

 

vermelho no branco

skandha

de cinco vogais

 

consoantes à vida

(oxigênio)

zen mutualismo

 

respiram-me

as poemoglobinas

_________________________________

sem título

 

pecado

da gula

pecado gordura

pecado econômico

 

simultâneo instantâneo

orgasmos de infartos incessantes

_________________________________

 

transitividade

 

fonte ou meio

teço passagem

entre dois universos

 

sentimentos

desnecessários

procurados a todo momento

 

caminho

viés inverso

transito

resposta ao desejo

inconcluído

 

escrevo o existente

não descoberto

 

os que leem – alunos – acendem

ascendem

novos tormentos

 

não inspiro anseios

comunico a ideia à mente

sem título

 

não cá entre nós

mais nada

não se enxergue

amor espiritual

seja sempre assim

não se entregue como você

que eu não sei

mais nada

_________________________________

 

gênesis

 

não se fez nenhuma palavra

nenhuma sensata

ingrata

dolorida ou amada

 

não se fez nenhuma carne

interna, externa, materna

 

fez-se umas e outras

esquecidas, mal-dadas

taradas

 

fez-se as últimas: castas, inatas, inexatas

_________________________________

 

sem título

 

a vida é um sopro

quem soprou

portanto

não havia

_________________________________

 

sem título

 

penso que

a natureza não se entende

nem eu

*

 

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